Lá na curva da estaçào.
Lá na curva da estação.
Passeando pelas ruas daquela cidade qualquer, pude ver como a sociedade se comporta perante aos excluídos pela falsa moral e bons costumes. Vendo aquelas mulheres alcoolizadas debruçadas no balcão daquele bar de uma porta só, onde as pessoas já não entram pela presença delas. Saiba você jovem, que elas já foram rainhas, rainhas de uma geração, que seus pais hoje renegam ao total abandono e muitas vezes discriminatórios. São seres humanos, que carregam historias, que se editadas, podem explodir esta cidade, ou mesmo lançarem lama por todos os lares, autarquias e instituições.
Olha meu jovem, naquele tempo em que não estava instalado “O FICAR”, que vocês usam e abusam atualmente, era para lá na curva da estação que todos jovens, se refugiavam nas suas experiências sexuais, ou mesmo nas suas inicializações. Às vezes impulsionados pelos pais, irmãos ou mesmo por um amigo do pai, no afã desesperado de fazer crer e ver, que tinham gerados machos de boa estirpe. Como pode notar, elas tiveram uma parcela importante na historia de muitas pessoas desta cidade qualquer.
Mulheres que foram belas até interessantes, amaram,geraram filhos que não conheceram os pais. Filhos que largados na cidade, acabaram expostos a reeditarem a famosa tragédia grega. A curva da estação, para onde todos os homens iam às noites e muitas vezes durante o dia, se valendo de todos os disfarces. Ali onde alegres canções se ouviam, nas vozes dos mais renomados românticos interpretes, onde alguns dançarinos se exibiam com seus passes cadenciados, hoje apenas uma área vazia, e nelas um vazio, uma angustia de uma lembrança nas pessoas que amavam e também um alívio daquelas que por razoes obvias odiavam.
Não foram poucas vezes naquela curva e mediações, que mulheres de filhos nas escadeiras, naquela tradicional posição, esperavam tristes humilhadas pela saída de seus maridos, que às vezes nem lá estavam devido ao grande numero destas casas naquela região e adjacências. Eram cenas cômicas ao tempo que trágicas pela exposição ao local censurado, por uma mulher do bem com seu filhinho.
Agora o progresso enxergou aquela região maldita, os especuladores imobiliários vislumbraram uma nova planta para aquele alto, com vista para toda cidade com seus “arranha-céus” de janelas arreganhadas. Chegaram os tratores demoveram todas as historias e casas, foi como se aquela lamina estivesse a serviço da limpeza moral do lugar, cortando e remoendo toda aquela terra pecaminosa, degradada, contaminada pelas maldades humanas.
Mudaram os caminhos dos trilhos, já nem o trem manobra por lá, cortaram as linhas, como se cortassem as veias de um coração. O maquinista com seu quepe não pode fazer apitar sua famosa buzina anunciando sua chegada, balançando seu braço esquerdo aquelas mulheres nas portas das casas cor de rosa. Eles já não trazem as lembrançinhas compradas na cidade de Vitória ou às vezes anéis, colares com pedras preciosas da cidade Governador Valadares. Tudo ali morreu.
As mulheres foram abandonadas pelas ruas daquela cidade, não foram alforriadas, não tiveram uma lei a lhes prever direitos, apenas o decreto municipal embasado na moral para tudo derrubar. Assim foram lançadas ás ruas e hoje se espalham pelos bares e botecos daquela região. Discriminadas perambulam aos olhos assustados das pessoas, que passam e voltam seus olhares para outro ponto.
Mas meu jovem me perdoa você me perguntava sobre 13 de Maio?
E acabei entusiasmando falando de outra escravidão, que é a do ser humano com seus preconceitos e discriminações relegando pessoas ao ostracismo e solidão e para estes não tem abolição, nem rainha, nenhum zumbi, nem mesmo solução.
E lá de dentro do boteco ainda se pode ouvir o som de uma canção...
“Se quiser fumar eu fumo/Se quiser beber eu bebo
Não interessa a ninguém /Se o meu passado foi lama
Hoje quem me difama /Viveu na lama também...”.
Toninhobira
13/05/2010.