RECADO A FIDEL
Bem ao ocaso dos anos 50, ali para o limiar dos 60, Comandante Fidel, você era visto pelos olhos do mundo como um grande mito. Aliás, até hoje, afastado do leme do poder, você continua sendo um mito e um tabu.
Minha geração liceísta, que ainda discutia política e cinema, e não apenas futebol e novelas, tal se faz, atualmente, não deixava por menos: vibrava que vibrava com você. E também com o jovem médico Ernesto Che Guevara.
Com o sucesso de Sierra Maestra, em 1959, você acabara de libertar Cuba do jugo dos norte-americanos, ianques que, já à época, eram a palmatória do mundo inteiro. Como bem ressalta o João Ubaldo, os ianques são os “cagadores de regras” para todo o globo.
Ora, em razão de a juventude sempre levar sangue libertário, os moços daqueles tempos febris – sem exceção – se enchiam de orgulho dos seus grandes feitos. Nós todos exultávamos de entusiasmo pela sua trajetória de homem que fazia a tão sonhada revolução socialista, ó meu caro Comandante.
Claro que proclamar, aqui, esse “nós todos” é por mera força de expressão. Havia já a rapaziada da Tradição, Família e Propriedade, a TFP, remanescentes eles de Plínio Salgado, o integralismo, o nazifascismo e outras coisas que tais, estapafúrdios grupelhos que já se rebelavam contra o movimento de libertação cubano, em oposição ao progresso da História, inclusive no Liceu do Ceará.
Embora ainda fosse muito verde, Comandante, quando ouvia alguém declinar o seu nome, eu mesmo me quedava solene como um sacerdote, ante a ara do templo, todo contrito, ali diante do altar.
Você acabara de libertar Cuba, e isto soava ao coletivo dos ouvidos como um hino mavioso e misterioso. Uma partitura fantástica que nos fascinava. Sob sua batuta, os reacionários acham que com certo excesso, a Revolução mandou encostar ao “paredón” bastantes reacionários inconformados.
Era a duríssima, porém inevitável guerra das armas, então em marcha irreversível, no vermelho solo da ilha do Mar das Antilhas. Aquilo era uma avalanche fantástica, como um tsunami, bem à tábua das barbas do imperialismo ianque.
Admirado por milhões e milhões de pessoas, socialistas ou não, e aclamado principalmente pelas multidões jovens do planeta, você, Comandante Fidel Castro, também foi execrado, e repudiado, e odiado, também isto foi, por alguns milhares de reacionários do mundo todo, incluindo-se aí a direita chinfrim e os imperialistas.
Mas correram os tempos, a roda-viva pula por cima das nossas cabeças. Anos a fio se passaram. Décadas já lá se nos foram, em maior parte dos quais anos você esteve firme, como uma maçaranduba, com as rédeas do poder na mão. É!... Tudo se dera assim mesmo, apesar dos focos do ranço contrário, mormente o azedume mórbido lá dos lados de Miami, da CIA, todos os EUA a tramar contra e ainda o bloco das marionetes e teleguiados.
Num rápido balanço: Cuba bloqueada, economicamente, belicamente cerceada, cercada literalmente pelas esquadras navais de John Kennedy, o todo bondade e ternura. Boicotada pela ONU, ameaçada sempre pela maior potência capitalista mundial, a pátria dos ianques.
Branqueei meus cabelos na leitura de “A ilha”, livro de louvação de Fernando Morais. Indo-se para não mais voltar, Che Guevara, em outubro de 68, deixou todos nós bêbados de saudade, uma imensa lembrança de aventuras e venturas. Mas a Revolução Cubana sobreviveu a toda ordem de ataques, interna e externamente. Apesar das difamações e nódoas políticas contra ela, revolução.
Má ou muito boa, a mão revolucionária do regime – seja regime socialista, ou “ditatorial”, conforme rezam outros pontos de vista – ainda permanece, até hoje, mesmo com você, Comandante, tendo o seu pé fora do barco.
Antes de você e os seus “chicos”, lá, no assento da Ilha, prezado Fidel, aquilo tudo era um motel a céu aberto para os burgueses ianques e os boas-vidas de outros paraísos capitalistas. Você desceu a Sierra Maestra, botou ordem nas normas, e lhe caíram de pau. E sempre lhe fizeram um enorme cerco à batava ilha de Cuba.
Eram desfiles de pequenas embarcações a promover fugas, inconfidências e deserções, justo em prol do saco dos EUA. E choviam transmissões caluniosas, lá de Miami. Numa simples crônica, é evidente, ainda mais crônica de amador, aqui não comporta análise histórica e/ou sociológica sobre o caso.
Aqui pondo ponto final a esta conversa fiada, já que desfruto de liberdade relativa, vou tomar a ousadia de enviar-lhe estes confetes aos quatro cantos do vento: viva bem mais, e muito mais, ainda, Comandante, mas você cumpriu com acerto a sua luminosa trajetória. Não fosse a sua pronta intervenção, junto aos destinos da Ilha, durante décadas, os ianques glutões tê-la-iam arrasado inteiramente, como no mal que fizeram ao Haiti.
Ainda com toda afeição à sua pessoa, e antes que o imperialismo ianque tente cravar, de novo, as unhas de rapina, aí, em Cuba, por favor, agora ouça meu recadinho bobo: peça ao moço do seu irmão Raúl que abra as portas da bela Ilha que abrigou José Martí, Che Guevara, Camilo Cienfuegos, Violeta Casals, Ernest Hemingwy e tantos outros heróis a encetar o ensaio, em médio prazo, de umas eleições diretas, mas mediante uma boa formação de novos quadros socialistas.
Quem sabe, a semente das suas ideias não se plantará, ainda mais com fortes raízes, no seio da sua amaríssima terra, pátria tão malvista e cobiçada pelo imperialismo ianque. Vá, com força, “hombre de Dios”, repita alto e bom som aquela sua bombástica frase e do Che: “– Pátria o muerte! Venceremos!”
Fort., 13/05/2010.