Noivas e alianças
Hoje à tarde, voltando do Cooper, entrei numa livraria. Ela fica no caminho de casa; quase ao lado da igreja mercedária da Pituba, agora cinquentona.
Há meio século os frades merdedários tomam conta das almas desse simpático e acolhedor bairro de Salvador; da minha, inclusive!
Creio que muitas dessas almas chegarão ao Céu - não é o meu caso - agarradas nos escapulários desses abnegados missionário, seguidores de São Pedro Nolasco, o fundador da Ordem, nos idos de 1218.
Não entrei na livraria com o propósito de comprar este ou aquele livro, o que se constituiu numa grande novidade.
Não é segredo que uso parte dos meus proventos no enriquecimento de minhas estantes, que deixarei pros meus filhos, pros meus netos, ou para uma biblioteca pública, de um bairro qualquer, que se habilite, na desistência da parentela.
Repito isso em casa, toda vez que, contrariando a vontade de todos, começo a minutar meu inventário, um testamento, ou um modesto codicilo.
Tenho pedido que não joguem meus livros no lixo; nem os entrege a quem não gosta de ler, que seria a mesma coisa.
Doá-los ao Sebo, até podem. Nada contra. Sou frequentador dessas maravilhosas casas de livros velhos; de velhos livros; raros; preciosos; esquecidos.
E, agora, as noivas e as alianças.
As noivas de maio! Fecho meus olhos e as vejo, sorriso aberto e contagiante, alcançando os altares, ao som da Marcha Nupcial de Mendelssohn.
Um parêntese. Nunca entendi por que as mulheres rezam tanto pra Santo Antônio de Pádua, o santo casamenteiro, e geralmente só casam no mês de Maria.
Por que em maio e não em junho? Alguém um dia me dirá porquê.
Mas deixemos isso pra lá: cada mulher casa no mês que lhe convém; ou nunca casa.
Neste maio, que já caminha para o seu final, compareci a três casamentos muito chiques. As noivas - sempre o grande espetáculo das bodas - desfilaram lidas.
Outro parêntese. É difícil ver uma noiva feia. Os salões de beleza estão aí dando aquele jeitinho...
As mulheres deviam casar logo após acordarem, proclamava meu avô, um analfabeto sábio. Exagero?
Não cometeria, jamais, a indelicadeza de achar que as noivas são irremediavelmente produtos dos bons e caros cosméticos. Mas acontece e todo mundo sabe disso. Já fui a um casamento que só reconheci a noiva na hora do abraço.
Sobre as alianças, contou-me um amigo que, no dia do seu casamento, esqueceu de levá-las pro altar, como de praxe.
E completou: " Enquanto minha noiva choramingava, eu sorria diante do constrangimento que acabara de provocar.
Os convidados, atônitos, não entendiam o que estava ocorrendo nos pés do padre, que, indiferente, caprichava no seu velho e correto latim.
Foi uma loucura, levando-se em conta que casei no início dos anos 1960, tempo em que as alianças valiam muito."
Pesquisas mostram que a aliança de noivo, de casado, é cousa muito antiga. Teria surgido entre os gregos e os romanos, embora dela se tenha notícias nos dedos dos Faraós egípcios, 2 800 anos antes de Cristo.
No início, a aliança era simplesmente um certificado de propriedade da noiva. Seu uso tornava a mulher indisponível. Ela tinha um dono.
Veio a Igreja Cristã e alterou esse deselegante conceito: a partir do século IX, a aliança passou a ser "o símbolo da unidade e felicidade entre casais". Será?
Na sua história, admitiu-se que "sua forma é um círculo que significa a unidade perfeita, sem começo ou fim, chegando assim à eternidade". Será?
Gosto de recordar o que os romanos acreditavam, quando falavam da aliança de casado. Para eles, colocá-la no anelar da mão esquerda, não era por acaso. Por esse dedo, enfatizavam, passa a "veia d´amore", ligada ao coração. Lindo, né?
Noto, que esse conceito de aliança "simbolo da unidade e felicidade dos casais" e que seu formato, em círculo, "simboliza uma unidade perfeita , sem começo ou fim, chegando à eternidade", vem, nos dias que correm, ou já há algum tempo, perdendo essa conotação.
Será que a aliança no dedo por onde corre a tal "veia d´amore" simboliza mesmo a intocabilidade do casamento, tornando-se necessário o seu uso? Será?
Meu amigo, sim, aquele que esqueceu as alianças no dia do seu casório, fazendo sua noiva chorar, nunca as usou; sua mulher não está nem aí; e seu casamento se mostra cada vez mais consolidado e feliz.
Hoje à tarde, voltando do Cooper, entrei numa livraria. Ela fica no caminho de casa; quase ao lado da igreja mercedária da Pituba, agora cinquentona.
Há meio século os frades merdedários tomam conta das almas desse simpático e acolhedor bairro de Salvador; da minha, inclusive!
Creio que muitas dessas almas chegarão ao Céu - não é o meu caso - agarradas nos escapulários desses abnegados missionário, seguidores de São Pedro Nolasco, o fundador da Ordem, nos idos de 1218.
Não entrei na livraria com o propósito de comprar este ou aquele livro, o que se constituiu numa grande novidade.
Não é segredo que uso parte dos meus proventos no enriquecimento de minhas estantes, que deixarei pros meus filhos, pros meus netos, ou para uma biblioteca pública, de um bairro qualquer, que se habilite, na desistência da parentela.
Repito isso em casa, toda vez que, contrariando a vontade de todos, começo a minutar meu inventário, um testamento, ou um modesto codicilo.
Tenho pedido que não joguem meus livros no lixo; nem os entrege a quem não gosta de ler, que seria a mesma coisa.
Doá-los ao Sebo, até podem. Nada contra. Sou frequentador dessas maravilhosas casas de livros velhos; de velhos livros; raros; preciosos; esquecidos.
E, agora, as noivas e as alianças.
As noivas de maio! Fecho meus olhos e as vejo, sorriso aberto e contagiante, alcançando os altares, ao som da Marcha Nupcial de Mendelssohn.
Um parêntese. Nunca entendi por que as mulheres rezam tanto pra Santo Antônio de Pádua, o santo casamenteiro, e geralmente só casam no mês de Maria.
Por que em maio e não em junho? Alguém um dia me dirá porquê.
Mas deixemos isso pra lá: cada mulher casa no mês que lhe convém; ou nunca casa.
Neste maio, que já caminha para o seu final, compareci a três casamentos muito chiques. As noivas - sempre o grande espetáculo das bodas - desfilaram lidas.
Outro parêntese. É difícil ver uma noiva feia. Os salões de beleza estão aí dando aquele jeitinho...
As mulheres deviam casar logo após acordarem, proclamava meu avô, um analfabeto sábio. Exagero?
Não cometeria, jamais, a indelicadeza de achar que as noivas são irremediavelmente produtos dos bons e caros cosméticos. Mas acontece e todo mundo sabe disso. Já fui a um casamento que só reconheci a noiva na hora do abraço.
Sobre as alianças, contou-me um amigo que, no dia do seu casamento, esqueceu de levá-las pro altar, como de praxe.
E completou: " Enquanto minha noiva choramingava, eu sorria diante do constrangimento que acabara de provocar.
Os convidados, atônitos, não entendiam o que estava ocorrendo nos pés do padre, que, indiferente, caprichava no seu velho e correto latim.
Foi uma loucura, levando-se em conta que casei no início dos anos 1960, tempo em que as alianças valiam muito."
Pesquisas mostram que a aliança de noivo, de casado, é cousa muito antiga. Teria surgido entre os gregos e os romanos, embora dela se tenha notícias nos dedos dos Faraós egípcios, 2 800 anos antes de Cristo.
No início, a aliança era simplesmente um certificado de propriedade da noiva. Seu uso tornava a mulher indisponível. Ela tinha um dono.
Veio a Igreja Cristã e alterou esse deselegante conceito: a partir do século IX, a aliança passou a ser "o símbolo da unidade e felicidade entre casais". Será?
Na sua história, admitiu-se que "sua forma é um círculo que significa a unidade perfeita, sem começo ou fim, chegando assim à eternidade". Será?
Gosto de recordar o que os romanos acreditavam, quando falavam da aliança de casado. Para eles, colocá-la no anelar da mão esquerda, não era por acaso. Por esse dedo, enfatizavam, passa a "veia d´amore", ligada ao coração. Lindo, né?
Noto, que esse conceito de aliança "simbolo da unidade e felicidade dos casais" e que seu formato, em círculo, "simboliza uma unidade perfeita , sem começo ou fim, chegando à eternidade", vem, nos dias que correm, ou já há algum tempo, perdendo essa conotação.
Será que a aliança no dedo por onde corre a tal "veia d´amore" simboliza mesmo a intocabilidade do casamento, tornando-se necessário o seu uso? Será?
Meu amigo, sim, aquele que esqueceu as alianças no dia do seu casório, fazendo sua noiva chorar, nunca as usou; sua mulher não está nem aí; e seu casamento se mostra cada vez mais consolidado e feliz.