VIAJANDO PELA VIDA

VIAJANDO PELA VIDA

Conheci o mundo perdido das ilusões e das utopias. Mas tenho para mim que ele não existe. A análise de caso a caso faz-me acreditar em soluções. Trilhei, nesse mundo perdido, caminhos diversos. Uns com sua camada asfáltica muito antiga, mas sempre renovada e, alguns trechos, até duplicados. Entrei por estradas de chão, sem as mais rudimentares condições de tráfego. Encontrei pedras pontiagudas a serem transpostas... e cascalhos a me machucarem os calcanhares dentro dos meus sapatos. Conheci rampas íngremes a serem galgadas e espinheiros,... e machuquei a alma ao transpô-las, nos seus espinhos. Atolei os pés desnudos em lodaçais fétidos. Senti o medo próprio dos seres vivos ao transpor florestas inóspitas, somente habitadas por peçonhentos inimigos da verdade. Senti a brasa ardente das paixões a queimar-me dentro do peito, nos mais evidentes momentos de fraqueza, apesar de inutilmente, tentar escondê-las ou camuflá-las sob o manto das necessidades e tolerâncias. Encontrei, nessa caminhada, vícios aprisionando indefesas vítimas e estrangulá-las até a morte. Vi os imperadores do crime e da anarquia ditando a execução das suas nefastas leis. Vi a agonia mortificar corpos medrosos e sem ação. Senti, na inconsciência da própria carne, o mal perverso instalado.

Mas conheci o sol dos prados verdejantes a irradiar virtudes ao pé de montes brutos e rústicos. Vi a virtude mais pura dando exemplos da boa ação. Vi a caridade amparar a pobreza. Vi a primazia da pobreza e do sofrimento suportados com galhardo heroísmo. Vi os mansos espalharem seus doutos conselhos, sua paz e seus equilíbrios. Vi o trabalho honesto produzir fartos frutos imaculados. Vi inocular-se o doce mel da mansidão em favos construídos de esterco. Vi o brilho de luz intensa clareando campos escuros. Vi os apertos da necessidade vencendo as barreiras dos medos e das preguiças, produzindo trabalhos edificantes. Vi, enfim, mãos alvas e macias imolar-se ao toque das feridas alheias.

E é nesta viagem que todos nós, seres humanos, fazemos em largas e lisas vias asfaltadas ou em ruelas de subúrbio, de pedregulhos a machucarem os pés descalços, todos – sem nenhuma exceção – com a humildade admitindo o uso da razão, temos que crer na interdependência aliada à interação para solução de todos os problemas surgidos ao longo do caminho. Utopias não existem quando a paz e a boa vontade se põem a serviço da solidariedade e do útil sagrado da convivência humana.

Afonso Martini
Enviado por Afonso Martini em 13/05/2010
Reeditado em 13/05/2010
Código do texto: T2254167
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