Maitê Proença tem medo de ser apedrejada... em Portugal
-Bom dia, senhor doutor, como tem passado?
-Tudo bem, Manuel. Então, por aqui a estas horas?
-É verdade, senhor doutor, acordei cedo por causa daquela dor que o senhor bem sabe, ordenhei a minha Lucrécia, deitei a forra aos porcos e às galinhas e vi que ainda tinha tempo para passar aqui na vila para pagar a Internet de Banda Larga.
-Ah, então sempre comprou o computador que aconselhei?
-Esse não, senhor doutor, é um que o meu sobrinho me mandou lá de Lisboa. Ele diz que tem mais gigas, acho eu. Falando nisso, senhor doutor, não quero roubar muito do seu tempo que sei que é pouco e precioso.
-Diga lá, Manuel.
-Senhor doutor, sabe que depois de tratar da quinta e ir à cooperativa, eu dou sempre uma vista de olhos pelas notícias da Internet…
-Sim, sei.
-Mas então veja lá que li uma notícia dizendo que menina Maitê Proença, aquela atriz lá do Brasil, tem medo de ser apedrejada… em Portugal!
-Como?
-Sim, senhor doutor, aqui em Portugal!
-Mas isso é uma tal tolice que as outras tolices dela até se tornam simpáticas.
-Mas “apedrejar” não quer dizer amandar pedras uns aos outros? Assim, como os judeus queriam fazer a Maria Madalena e o Senhor Jesus Cristo não deixou?
-É, Manuel, para todos os efeitos, é isso. Mas para apedrejar a menina Maitê teríamos que pensar que nenhum de nós tenha já pecado.
-Pecado? Que tipo de pecado, senhor doutor?
-Não interessa qual pecado. Pecado de vilipendiar a mulher do próximo, de cuspir, de blasfemar, de ofender, de roubar, de brincar com o que é mais sagrado, seja o nome de Deus ou outras intimidades…
-Senhor doutor, eu já pequei! Pronto, está dito! Epá, até já pequei e já “amandei” pedras! Não à menina Maitê, Deus me ajude, mas a outras coisas mais divertidas, como, por exemplo, ao gato do vizinho, bicho cínico, ou ao cão do Anacleto das bicicletas, lá ao pé da rodoviária, ruim como as cobras, que, quando eu passo com a minha junta de bois, se põe a ladrar como se acabasse o mundo. Olhe, senhor doutor, até ao Zé Pedro, acho que chega a ser primo da sua esposa, lá do Largo da Sé que, quando éramos miúdos, passava a vida a dar-me cascudos e a chamar-me cigano. Confesso que tantas foram as pedradas que amandei que nenhum deles me ficou a dever nenhum pedido de desculpas. Pronto, estamos quites e a vida segue assim mesmo, sem mazelas nem maleitas.
-Espero que não tenha aleijado ninguém.
-Não, nem pensar, senhor doutor, que a gente aqui em Portugal não é de aleijar ninguém. Tantas coisas para a gente se arreliar nestes dias e ela preocupada com a rapaziada a fazer-lhe uma espera para a abalroar com uma canelada na cabeça, como aconteceu ao Berlusconi, aquele castiço, que foi a toque de estatueta. Mas já se sabe como é aquele pessoal lá da Itália. Veja lá o senhor doutor, que a gente já tem o Benfica campeão, querem vender o David Luis e o Di Maria, esta crise internacional que andamos sem saber como pagar o gasóleo do tractor, o Rock in Rio Lisboa, que é um balúrdio e os míudos querem ir todos, o Ipad a chegar à Europa mais caro que nos Estados Unidos e ela, a nossa menina que a gente tanto gosta, preocupada que alguém a apedreje, veja lá!
-Não se preocupe, Manuel, que é só para vender jornais. Falando nisso, já comprou o jornal de hoje?
-Não, senhor doutor, ía agora mesmo beber uma bica e comprar a Bola.
-Então, venha daí que hoje pago eu.
-Obrigado, senhor doutor, sempre lhe faço um bocado de companhia.
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