O REGIME DA ESTELINHA

Hora do recreio. Eu? No meio da meninada. Gosto de bater papo, rir com as coisinhas que falam. Sou fã dos pequenininhos. Tão novinhos! Mal dá pra crer que já estejam na escola. Os pezinhos nem alcançam o chão. Perninhas balançando nas cadeiras altas demais para eles. A escola agora começa cada vez mais cedo. Antes tinham que ter 7 anos completos. Agora já começam a andar na escola. Muitas crianças levam ainda seus brinquedos. Vejo-as rodeadas de bonecas, carrinhos, “hominhos” e bichinhos de plástico. Vão pra escola ainda trazendo de casa parte de seu mundo infantil.

Lá no pátio, debaixo da árvore, estão as meninas da sala 8. Fazem piquenique. Tudo correndo, voando, é verdade. O tempo é muito curto, não dá pra nada. Só mesmo pra aproveitar a chance de brincarem um pouquinho. É o tempo de piscar o olho! Mesmo assim não dispensam a festinha. Estendem suas toalhas e trocam lanches. Bonito, o senso de partilha. Ana Júlia doa a batatinha. Lara distribui o bolo de cenoura comprado na cantina. Lorena reparte o pastel. Tudo faisquinha, é bem verdade, mas todo mundo prova. Ninguém fica no prejuízo, nem com vontade de comer o que vê...

Em pleno piquenique avisto a Estelinha. É uma coisa essa menina! Vaidosa feito ela só. Esse pingo de gente é puro charme. Parece uma bonequinha com seus cabelos de Maria-chiquinha, a sainha jeans e as botas cor-de-rosa combinando com a bolsinha de cara de ursinho. Ela me vê e vem correndo. Gosta de me agradar “Toma um biscoito!”. Olho o pacote na mão dela. Chocolate? Hum, não como chocolate. “Ah, minha flor, brigada, tô de regime”. Ela faz uma carinha séria “Regime? Ah, minha mãe também tá! Minha madrinha tá, até eu tô!”. Olho o corpinho mirrado, fininho feito um palito. Viro o rosto pra disfarçar. Controlo a vontade de dar uma boa risada e tento ser natural “Você, de regime?”. Ela sustenta com firmeza meu olhar “É, mi’a fia, tô passano a pipoca e todinho!”...