O desabafo de uma atendente
Boa tarde! Meu nome é Juliana. Em que posso ajudar? Foi assim que durante cinco meses me dirigir as pessoas que ligavam querendo informações sobre uma operadora de telefonia móvel. Sempre muito gentil, procurei fazer o meu trabalho, apesar de que essa função nunca foi e nunca será sonho pra ninguém, ou melhor, pra mim, mas fiz o meu papel enquanto estive lá.
Paciência, atenção, e até um “ombro amigo”, ou melhor, um “ouvido amigo” foram os ingredientes que tive durante todo esse tempo que estive nessa empresa. Há ligações que nunca vão ser esquecidas, como por exemplo, a de uma senhora que ligou informando que se sentia muita sozinha em pleno Natal, festa onde as pessoas costumam comemorar em família. Ela me desejou um Feliz Natal e que Deus me abençoasse sempre. Certamente fiquei muito agradecida por aquelas palavras, de uma senhora que não a conhecia, mas que compartilhou esses dizeres comigo, uma simples atendente de call center.
A voz daquela senhora me pareceu trêmula ou de choro talvez, me passou uma tristeza tão grande que naquele momento agradeci as suas palavras de carinho e de solidariedade. Mas também por alguns instantes fiquei muda sem saber o que dizer. Respirei fundo e pensei que o atendente não é somente um atendente, ou melhor, que eu enquanto atendente, fui uma amiga, uma psicóloga sem formação, uma mulher que teve e que tem sensibilidade, uma pessoa que gosta de escutar o outro e que, em alguns casos, se coloca até no lugar dele.
Um outro caso também foi de uma senhora que reside aqui em Salvador, num dado momento da ligação ela disse que estava com tanta raiva do marido que iria matá-lo. Simplesmente disse a ela que esse mundo está muito poluído de maldades, que ela não precisaria sujar as suas próprias mãos com esse tipo de coisa. Pedi a ela que acreditasse em Deus e rezasse para que a sua mente não pensasse bobagem. Apesar de fugir um pouco da proposta da ligação, ou melhor, eu poderia agir de uma outra forma, pedindo a ela para desligar o telefone porque eu estava ali pra passar informações sobre a operadora e não sobre outras coisas. Mas, enfim, preferi escutá-la e até confortá-la com minhas palavras que, segundo ela, fizeram diferença no modo de pensar. Inclusive, ela ficou muito agradecida e disse que eu sou muito educada e paciente. São essas ligações que jamais vou esquecer. Apesar de todas as dificuldades que passamos, sei que Deus olha e ora por todos nós.
Por outro lado, caro leitor, gostaria também de compartilhar além dessas experiências, a forma como os atendentes de call center são tratados.
São oito da noite. Hora do faturamento de uma determinada operadora. Todos posicionados em sua PA. Ninguém tira mais pausa. Ninguém. Ligações uma atrás da outra, a única pausa só era pra respirar, quando era... às vezes as ligações eram seguidas que a minha voz, ou melhor, as vozes de todos os atendentes pareciam sumir.
Durante todo o tempo em que estive nessa empresa, fiquei triste e decepcionada com algumas atitudes que muitos funcionários tomaram com os atendentes. Uma delas, por exemplo, é a falta de justificativa para os descontos que haviam sendo realizados nos salários dos operadores, inclusive, no meu. A falta de respeito, a falta de ética e muitas vezes, até do compromisso de alguns, me fez pensar sobre essas questões. É claro que, a maioria das empresas, só quer lucro e, no entanto, não proporciona ao funcionário uma melhor qualidade de vida, e nem campanhas interessantes que motivem seu empregados. A ganância pelo dinheiro, o interesse individual, o despreparo profissional e moral andam, em muitos casos, com algumas pessoas desse local. Mas, enfim, como sei que não posso mudar ninguém, pedi para ser desligada dessa empresa.
Pois é, caros leitores, cada dia que passa o ser humano torna-se mais egoísta e ganancioso. O que pode ser feito para mudar essa realidade? Como dizem: “ o sistema é bruto”, e parece que é mesmo. O que parece nos restar a fazer, é rezar e ter esperança sempre!