Amor Linear
Sei que uma linha é formada de microscópicos pontos e que a matéria não é como se apresenta aos nossos olhos. Isto, ou coisa parecida, eu devo ter lido ou ouvido em algum lugar, afinal nunca fui simpatizante da física – inclusive a Educação Física dos tempos da escola. Eu fugia até dos ensaios da marcha para o desfile do Dia Sete de Setembro.
Todo este preâmbulo para falar de amor. Ah! Amor... minúsculos pontinhos que vamos juntando aqui e ali e que transformam-se em linhas tênues ou fortes, de acordo com a intensidade do sentimento.
Se essas linhas são fortalecidas pela reciprocidade chegam a urdir uma vida inteira de amor e companheirismo. No entanto, se apenas um ama de fato e o outro só retribui por retribuir, sem que haja uma teia resistente, o amor é breve e desinteressante.
Estamos sempre procurando a perfeição, a realização dos ideais e não nos contentamos apenas com instantes exigindo
mais do que a vida nos dá.
Com o amadurecimento, no entanto, aprendemos a não nos precipitarmos. Vamos usando a linha sem permitir que se emaranhe e fique muito forte. Sabemos que a qualquer momento o fio pode rebentar, então não colocamos muitos sonhos, deixamos ilusões pendentes, mas não amarradas. Cuidamos para não sobrecarregar essa teia tão delicada.
Este é, talvez, um dos segredos que aprendemos na velhice: saber esperar sem esperar muito; viver apenas o momento presente e aproveitá-lo, pois o amanhã pode não acontecer.