Machismo

Hoje de manhã após um plantão tumultuado, peguei a minha bicicleta e fui pedalar para relaxar e queimar um pouco minhas calorias. Estava uma manhã de sol intenso, apesar de ser outono.

Como sempre o calçadão estava cheio, e na praça , mães e crianças tomavam banho de sol.

Depois de mais de uma hora de exercício, parei debaixo de uma árvore para tomar uma água de coco. Afinal, não sou mais um garoto! Necessitava repor minhas energias. Quando bebia ouvi a conversa de uma mãe com seu filho.

- João, pare de chorar! Eu já disse que homem não chora! O menino sem entender o que a sua mãe dizia, chorava ainda mais. Ele machucara o joelho correndo na praça.

Esta triste cena me fez refletir : Com certeza muita coisa mudou na nossa sociedade, porém, existem tabus que são difíceis de acabar. São passados de gerações a gerações .

Infelizmente, nossa sociedade é baseado numa cultura machista. Sendo assim , ouvimos esta e outras frases tais como : Homem não brinca de boneca, não tem medo do escuro, não sente dor. Somos criados para sermos supermasculinos, fortes, uns super-homens.

Desde modo passamos a reprimir os nossos sentimento, já que aprendemos que demonstrar emoções é sinal de fraqueza.

Crescemos em busca do status, do sucesso, e cada vez mais nos distanciamos de nós mesmos. Esquecemos que podemos ser mais homens, simplesmente deixando fluir nossa sensibilidade, nosso carinho, nosso afeto, pois só com o amor, podemos viver com mais plenitude o que a vida nos oferece.

Bem, vendo aquela cena quase me intrometi na conversa, mas me contive. Tive medo de ser mal interpretado.

O que me confortou naquele momento, foi que, na minha vida de pediatra, tenho, aí sim, a oportunidade de ser ouvido , e de certo modo, ajudo a mudar um pouco essa triste realidade.

Roberto Passos do Amaral Pereira
Enviado por Roberto Passos do Amaral Pereira em 06/06/2005
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