A HISTÓRIA DE UMA MÃE

ONTEM ELA ESTAVA LÁ, NO MEIO DOS ENTULHOS, ROSTO COBERTO DE POEIRA.ESTAVA A EMBALAR SEU FILHOTINHO ESQUELÉTICO.

ELA CANTAVA UMA CANTIGA DE NINAR, OU PENSAVA QUE ESTAVA CANTANDO, AQUILO NÃO ERA MÚSICA, ERA UM UIVO; UM LAMENTO DE DOR: UM VERDADEIRO CLAMOR.

JÁ NÃO TEMIA POR SUA VIDA; NÃO TINHA SÊDE; NÃO TINHA FOME. PERDERA TODO O VIGOR. SO SABIA DE SUA EXISTÊNCIA, PORQUE AINDA ESTAVA COM O SEU BEBEZINHO NEGRO NOS BRAÇOS.

TINHA UMA APARÊNCIA MACABRA: A PELE MUITO NEGRA SEM NENHUM VIÇO, OLHOS ARREGALADOS, A BOCA MOSTRAVA ENORMES DENTES E NUM DOS LADOS ESCOAVA UMA BABA QUE SERVIA DE POUSO PARA AS MOSCAS. ERA A PRÓPRIA MISÉRIA EM FORMA DE SER HUMANO.

HOJE ELA AINDA ESTAVA LÁ, OLHAVA PARA O SEU BEBÊ FAMITO TEVE VONTADE DE CHORAR, MAS SEU CORPO SECO,TOTALMENTE DESIDRATADO, ERA UM MISTO DE PELE E OSSOS.

NUM GESTO DE DESESPERO E COM A FORÇA QUE AINDA LHE RESTAVA , ESPREMEU A TETA MURCHA, SAIU A ULTIMA GOTA DE SANGUE. O BEBÊ SUGAVA SEM PRESSA, OLHAVA PARA ELA COM AQUELES OLHINHOS LANGUIDOS, TRISTONHOS. INSTINTIVAMENTE PRESSENTIA QUE AQUELE SERIA O SEU ULTIMO ACONCHEGO.

ELA OLHOU PARA OS CÉUS E COM UM GESTO DE BRAVURA EXCLAMOU:

- MÂE AFRICA, ROGAI A DEUS POR NOSSOS FILHOS.

EM SEGUIDA PENDEU A CABEÇA PARA O LADO E EXPIROU.

FAZIA PARTE DA ESCÓRIA DA HUMANIDADE, DA LAMA HUMANA. FOI MAIS UMA NA MULTIDÃO DOS EXCLUIDOS.

TERIA OUVIDO UMA PALAVRA DE CARINHO?

TERIA SIDO AMADA?

QUEM LHE PRESTOU UM GESTO SOLIDÁRIO?

ISSO JÁ NÃO IMPORTA. MAS MESMO ASSIM, ELA FOI MOTIVO DE ORGULHO PARA A NATUREZA, SOUBE SER MÃE ATÉ O ULTIMO MOMENTO . CUMPRIU HONRROSAMENTE A SUA SANTA MISSÃO.

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* ESTE TEXTO FOI INSPIRADO EM UM FATO REAL. UMA DAS CENAS MAIS COMOVENTES QUE JÁ VI NA TV.

DIANTE DA SITUAÇÃO, É TRISTE ESTÁ DE MÃO ATADAS E TOTALMENTE IMPOTENTE. O MEU GRITO DE LAMENTO SERIA DO TAMANHO DE UM ÁTOMO. SÓ RESTA DIZER:

- EU SINTO MUITO.