Doida?Eu!
Águida Hettwer


 Está bem, confesso. Pode parecer dramática, doida varrida, exibida, enfim. Tem horas que os dedos desconfiam de mim. Andam apressados, mal penso um bocado, está ai, digitando sem ler ao certo o pensamento. Quem mandou não ser uma pessoa normal, daquelas que tudo consente, e não perde tempo, pensando na vida e na vida de tanta gente.
 
   Quem sabe assim, não viveria isolada. Teria tanto tempo de sobra, para ler o horóscopo do dia, saberia de cor quem é quem, nas telenovelas, ou quem foi o ultimo ganhador do “Big brother”. Teria assinatura assídua das revistas “Contigo” para saber das ultimas dos artistas.
 
 É, admito. Ando meio sem graça. Meu papo cabeça, não anda com nada. Uma pitada de futilidade, nessas alturas do campeonato não pegava mal. Que culpa tenho se não sou normal. Não aprecio o “Bonde do tigrão”, e as Tchutchuca. Sou do tempo que ser anormal era apreciar o “Lariê, lariê... Da Xuxa”.
 
 Converso com os meus bichos. Entendo o latido, os pulos, a faceirice verdadeira quando me vêem, mesmo com suas visões em preto e branco. Os animais não inventam um personagem, como os humanos. E não tentam vender uma imagem, ou projeção de perfeição. Não sugam. Sabem retribuir um carinho, disputam uma vaga no colo. E se dão como satisfeitos com o mínimo.
 
  Nas relações economizamos afetos, racionamos elogios uns com os outros. Temos um amplo leque de opções. Mas fazemos da vida, um mosteiro de ilusões.
 
 
 
 
 
                                                                                                                    11.05.2010



Imagem: Tela de Salvador Dalí
                  1952