O MENINO SUMIU
Era domingo, a casa estava cheia, na mesa da sala de jantar, não cabia todo mundo, então a criançada ficava mesmo na mesa da cozinha.
Muito bom, pois, a comida saida do fogão a lenha, chegava quentinha aos pratos de cada um de nós.
Minha vó tinha se esmerado no preparo do almoço, a galinha gorda, tinha vivido seu último dia na véspera, e hoje tinha se transformado em uma canja saborosa.
Eu tomava meu prato e me deliciava
Nesse tempo, eu ainda não havia me tornado vegetariana.
Essa era a cena costumeira que se repetia aos domingos, na casa de meus avós.
Mas, naquele domingo, algo diferente ocorreu, logo após o almoço, os homens ainda estavam saboreando o delicioso café, que tinha sido preparado no coador de pano.
As mulheres já, começavam a tirar a mesa, e se preparavam, colocando seus aventais, para a maratona, que as aguardavam na pia da cozinha.
Quando alguém perguntou: Ué, cadê o Marquinhos ?
Foi aí que todos se deram conta, que ele nao estava por ali, e que nao havia nem seguer acabado de comer.
Foi um sufoco geral, e procura daqui e procura de lá.
Correram para o fundo do quintal, pois, um rio passava por lá.
O desespero, já tomava conta de minha tia, mãe do Marcos.
Nos as crianças, ajudavamos a procurar, e também estavamos assustados, com o sumiço do Marquinho, que era o mais novo dos netos .
Fomos na vizinhança e perguntamos de casa em casa, e nada do menino.
Em casa ja estavam todos desesperados, quando meu avô falou, sera que ele nao foi ao armazém.
A casa de meus avós, era ligada ao Armazém do meu avô, e a chave para abri-lo, ficava pendurada atrás da porta da cozinha.
Todos correram para lá, e ao entrar no armazém, lá estava ele.
Deitado no chao, com a boca debaixo da torneira do barril de vinho, que por um defeito, vivia a cotejar.
Por isso tinha sempre uma vasilha debaixo da torneira, para segurar o vinho que pingava.
E o peralta que adorava o gosto do vinho, sem que ninguém percebesse, saiu da mesa, e foi para o armazém, beber das gotas que escorriam pela torneira do barril, e tomou todo vinho que tinha acumulado na vasilha.
Resultado da peraltice, foi um menino embriagado, que custou a curar a bebedeira, um banho frio lhe deram as tias, um chá de ervas amargas, a força ele bebeu, para ver se a embriaguez passava.
E foi assim que o Marquinho, mostrou que era chegado a um vinho, e dali para frente, ninguém mais descuidou, porque até o resto que sobrava de vinho, em qualquer copo, o menino não desperdiçava, e já tomava.
Esse caso nunca foi esquecido na família, e sempre que nós reuniamos, mesmo ele ja estando moço. Nos lembravamos da aventura do Marquinho, que com apenas 6 anos, tomou seu primeiro porre.
E quase matou de susto toda família, naquele domingo tranquilo, que deveria ser igual a todos os outros, nao fosse pelo sumiço do menino.