Estimamos conforme a origem.
Quando escrevi a crônica ”Objetos Moderninhos” minha irmã contou um caso de uma amiga que foi “salva” de uma pancada de chuva por um guarda-chuva jogado numa caçamba. Não era o meu, mas foi um bom achado num momento de necessidade. Esse teve seu valor e, embora descartado por alguém, teve seu papel cumprido.
Nem tudo funciona assim. Certa vez precisei trocar de sofás e corri por várias lojas atrás do melhor preço, do mais bonitinho, o de tamanho mais conveniente. Depois de uma maratona, concluí e lá fui eu para casa esperar meu lindo sofá novo. Chegou e até o cheirinho de novo me dava satisfação de compra bem feita e na ocasião certa.
Somos escravos do consumismo e nem me senti com remorso de ter gasto um pouco mais do que devia em prol da satisfação do momento, até que passando por uma loja de móveis usados lá estava um irmão gêmeo de meu sofá. Estava em ótimas condições e, talvez por influência do meu, o cheirinho era o mesmo. Porque teriam descartado uma coisinha tão linda! Bem, era vermelho e preto, talvez alguém da família fosse corintiano ou santista e tomou birra pela cor. Talvez o espaço que eles tinham não fosse adequado. Talvez simplesmente já estivessem com ele há tanto tempo que resolveram mudar a decoração.
Não importa o motivo pelo qual alguém se descartou de um sofá igual ao meu, mas, podem crer, nunca mais consegui olhar para ele como um objeto super novo, ainda com a bronca de que deveria tê-lo adquirido pela metade do preço. Não exatamente ele, mas seu irmão gêmeo.