OS OUTROS NÃO SÃO O QUE PENSAMOS DELES

Tenho pra mim que qualquer pessoa por pior que seja, mesmo tendo todos os defeitos do mundo, se viermos a conhecê-la melhor haveremos de descobrir-lhe muitas qualidades. Se elegermos uma pessoa, que numa escala de 1 a 100, tenha noventa e nove defeitos e uma só qualidade, e que esta nos seja significativa, isso poderá ser o suficiente para mudarmos o nosso ponto de vista.

O motivo que me leva a abordar este assunto é fruto da observação que tenho feito sobre o preconceito de uma forma geral. É comum verificar isso com pessoas de nossa comunidade que ouvimos falar coisas negativas, algumas delas, quando as conhecemos verdadeiramente, fazem-nos mudar nossa opinião completamente.

Todos nós somos seres únicos e temos muito a oferecer. Não sei se por ironia do destino ou o quê, geralmente onde encontramos as pessoas mais interessantes é exatamente naquelas, que “não damos nada por elas”. A última frase grifada, que usualmente utilizamos, já carrega um preconceito por si só. Este é um exemplo simples de como dizemos coisas absurdas no dia-a-dia. Quem somos nós para afirmarmos que alguém pode não ser nada? Mas os arquétipos estão o tempo todo ao alcance de nossos olhos para nos ensinar o quanto somos estúpidos, ignorantes e pequenos.

Há um tempo atrás, contratei um pedreiro para empreitar uma pequena obra lá em casa. Uma pessoa extremamente simples, mas que me surpreendeu bastante. Ao separar as ferramentas para executar seu trabalho, perguntou-me se poderia dar uma olhada nos livros, que tenho numa estante dentro da minha garagem. Respondi-lhe que não tinha problema nenhum, e acrescentei que poderia até levar emprestado o livro que quisesse. Ao meio-dia, quando retornei do meu trabalho, fui chamá-lo para almoçar. Encontrei-o lendo um livro de poemas. Pediu-me que trouxesse o seu almoço, pois gostaria de comer ali mesmo na mesa dos fundos, argumentando que ficaria mais a vontade para terminar a leitura. Depois deste episódio, ao final da obra, que não deixou de cumprir mesmo intercalada a muitas leituras, conheci uma pessoa rica por dentro e com tanta coisa boa a oferecer, que me fez compreender o que não tem compreensão.

Dürckein tinha razão ao dizer: “que as nossas opiniões são fatos sociais, sendo resultado do meio em que vivemos”. Blaise Pascal (filósofo francês), também se referiu a esta questão: “Não me envergonho de mudar de opinião, porque não me envergonho de pensar”.

O melhor é não termos muitas convicções acerca de algo ou alguém, assim estaremos com a porta aberta do entendimento, e prontos a escutar mais. Os convictos são inquisidores em potencial, não tem o que aprender, seus sentidos se atrofiaram, menos o da fala, este se agiganta.

Portanto, estarmos convictos é deixarmos de ser os eternos aprendizes de sempre, e somente a estes é dada a chave do autoconhecimento, que entre muitas coisas boas, nos tornará seres humanos integrados, além de fazer cessar de vez o preconceito em nossas embotadas mentes.

Álvaro Santestevan
Enviado por Álvaro Santestevan em 11/05/2010
Código do texto: T2249994
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