CASAMENTO NA ROÇA

Festa casamenteira no Sítio do Feijão, distrito do município de Orobó, alto sertão do agreste pernambucano. A animação era total, sanfoninha gemendo e o forró comendo solto no enorme galpão da Fazenda dos Preás, muitos comes e bebes e o pessoal alegre que só vendo.

Nisso, surge um rapaz bem vestido, elegante mesmo para os padrões do pequeno lugarejo, e se dirige à bela moça que, sentada junto a varias senhoras, num círculo, ouvia atenta a prosa das comadres.

“- Senhorita, com licença, vamos dançar?” , convidou o recém chegado.

A moça virou-se, meio constrangida:-

“- Ah, moço, desculpe-me mas eu não posso dançar.”

E o forasteiro elegante, um tanto decepcionado com a recusa, mas sem perder a pose:-

“- Ora, ora, mas o que é isso, senhorita? Com essa alegria toda, você e sua boniteza aí parada? Não posso admitir! Venha, vamos dançar.”, insistiu o rapaz.

“- Moço, acontece que eu tenho uma perna-de-pau, sabe? ...”

O pretendente, meio sem ação ante tal argumento imprevisível, raspou a garganta e contra-atacou:-

“- Ora, ora! O que vale uma perna-de-pau para uma moça tão bonita como você? É apenas um mero detalhe. Vamos, vamos dançar! Deixe que eu a conduzo! ...”

A jovem formosa, no entanto, encolheu-se ainda mais na cadeira e respondeu cabisbaixa, fixando os grandes olhos de jabuticaba no chão:-

“- Acontece, moço, que a minha outra perna também é de pau. Eu tenho as duas pernas de pau,entende?!”

O mancebo assustou-se, engoliu em seco, mas ficou firme e não acusou o golpe recebido:-

“- Ah, mas o que é isso? Uma perna-de-pau, duas pernas-de-pau, tanto fez, tanto faz! Vamos dançar, senhorita! Deixe comigo! Você não vai ficar de fora dessa alegria toda. Eu já disse que não vou permitir! ...” – E ato contínuo, ante os olhares e risinhos nervosos das comadres, enlaçou a bela jovem pela cintura e saiu rodopiando pelo galpão:- “tóc, tóc, tóc ...”

A sanfoninha era boa, a moça muito bonita, perfumosa e o rapaz entrou no clima:- ficou empolgado e solfejou a velha “canção do bandido” na orelha da linda donzela. O papo fez efeito e logo estavam no imenso terreiro da fazenda, trocaram beijos e carícias sob um romântico luar e, por fim, foram parar em meio às espigas de milho que abarrotavam o grande paiol. O rapaz jogou a moça por sobre as palhas do milho, levantou seu vestido, baixou-lhe a calcinha e mandou brasa.

Nisso, dois compadres bebaços se aproximaram em ziguezague e um deles falou:-

“- Compadre, vou mijar no paiol. Fica aí de olho, viu? ...”

Adentrou o recinto, puxou a estrovenga e, antes mesmo de verter água, deu com os olhos no inusitado da cena. Assustadíssimo, recuou aos gritos:-

“- Compadre, vamos embora ligeiro, sô! ...” – E o parceiro, tonto que nem gambá, sem entender a razão do alvoroço:-

“- Mas, compadre, o que houve, véio? Fala! ...”

“- Tem um tarado ali comendo uma carroça!... E cú de bêbado num tem dono, então vamos cair fora logo antes que o bicho pegue a gente, sô!"

-o-o-o-o-o-

B.Hte., 11/08/1998

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 10/05/2010
Reeditado em 10/05/2010
Código do texto: T2249163
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