VIVEIROS, O BOM
O negão era um sósia perfeito do craque colombiano, jogador de futebol do glorioso “Cruzeiro Esporte Clube” de Belo Horizonte, Minas, com a diferença de que lhe faltava um dente, o canino esquerdo, a deixar seu sorriso banguela.
Fazia biscates nas redondezas, próximo ao famoso Bar do Espirro, na Cachoeirinha, quase junto à Igreja de Nossa Senhora da Paz. Conserta uma calçada aqui, um galinheiro acolá, o “Viveiros” (assim apelidado pelo incrível Ticreca), sempre afável e sorridente, era a tranqüilidade personificada, não se agastando jamais ante as brincadeiras da turma do bar, o Babalu, Déo, Paulinho Cearense, Chico Maritaca, Helio, “Seu” Moura, Felipão, Beto Belas Coxas, Guido, Marcelo, Dr. Gilberto, Zezé, Bananal, Sete Lagoas, Josino, Teiú, Renatinho, Pedrinho, Celso, Sena, Juquinha, Paulinho da Prefeitura e o maior gozador de todos eles juntos, o Sadi.
Uma vez o Zezinho, engenheiro aposentado e meu bom vizinho, contratou os serviços “profissionais” do “Viveiros” para arrancar um toco da enorme castanheira que fora cortada pela CEMIG, no passeio defronte à sua casa.
O “Viveiros” trouxe um ajudante, logo cedo, e meteram as picaretas no bicho, voando lascas de madeira pra todo o lado. Lá pelas duas da tarde, um buracão em volta, o toco ainda nem se mexia e eles, com pressa e com fome, mandaram ver nas picaretas e acabaram acertando a tubulação da COPASA:- a água esguichou bonito, jorrando o precioso líquido aos borbotões! O Zezinho enfiou uma bermuda e foi socorrer a dupla mas, ensopado e enlameado, desistiu e acabou chamando a COPASA, o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil!.... O quarteirão ficou a seco durante uma semana.
Num sábado cedo, o Ticreca foi ajudar o “Viveiros” a rebocar uma parede do barracão do Djalma (o “Barril”), anexo ao Bar do Espirro. Massa pronta, colher de pedreiro na mão e pose de artista, o “Viveiros” pespegava o reboco na parede (“chulap, chulap, chulap” ...), auxiliado pelo, até então, sóbrio e compenetrado Ticreca.
Quando meia parede já estava rebocada, o “Viveiros” deu as costas e foi pegar um cigarro na mochila jogada num canto, seguido pelo seu fiel escudeiro Ticreca.
Não deu nem tempo de acender o pito, ouviram um barulho surdo:- era o reboco que despencava todinho e duma vez só, deixando a parede completamente nua! O “Viveiros” terminou de acender o cigarro, soltou uma longa baforada, deu um suspiro, encolheu os ombros e disse ao atônito Ticreca:-
“- Botar massa na parede mofada dá nisso. Vamos lá no bar tomar uma pinga!” – e arrastou o amigo pelo braço, dando por encerrado o seu expediente.
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B.Hte., 28/01/2001