COM LIMÃO

O aleijadinho, baita corcunda nas costas, caminhava absorto pelas ruas tranqüilas do bairro, quando avistou uma casa com placa na entrada, letras garrafais:- “CURA-SE CORCUNDA COM LIMÃO”.

Parou, esfregou os olhos, leu, releu e, meio incrédulo ainda, adentrou o recinto, passando pelos jardins e chegando à varanda do enorme casarão. Bateu palmas, a porta se abriu e uma jovem sorridente o atendeu solícita:-

“- Boa tarde, meu senhor!”

“- Boa tarde, moça. É aqui mesmo? Vocês curam corcunda com limão ??? ...”

“-Ah, sim, perfeitamente. Pode aguardar, por obséquio.” , respondeu a moça, que sumiu logo em seguida para o interior da casa.

O nosso pequeno Quasímodo tomou assento no enorme banco de madeira que ocupava a sala de espera, recostou-se da melhor maneira que pôde e ficou no aguardo.

Passaram-lhe rápidamente pela memória, tal e qual num filme, as situações diversas em que procurou tratamento para o seu mal, sem resultados satisfatórios até ali. Médicos, massagistas, benzedeiras, simpatias, muito sofrimento e trabalheira medonha para coisa nenhuma. A corcova continuava no mesmo lugar, incômoda, autoritária, desafiadora! ...

Mas agora sentia que o seu padecer chegaria ao fim. E de maneira suave até, apenas sorvendo aquela beberagem tão apreciada por ele desde menino, fosse um chá ou refresco.

De repente, ouviu um gemido pavoroso vindo do interior da clínica, acompanhado de um grito lancinante de dor:-

“- Aaaiii, aaaiii, aaaiii, meu Deus! ...”

Assustado, ergueu-se do banco e foi até a porta do consultório, abrindo-a duma vez sem pedir licença. Deparou, então, com um colega seu de infortúnio deitado de bruços, sem camisa, enquanto um sujeito forte, todo de branco, lhe raspava as costas com uma lima de tamanho descomunal, o tal “limão” ! ...

-o-o-o-o-o-

B.Hte., 20/08/1998

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 10/05/2010
Código do texto: T2249155
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