Mesmo assim
É dificil não julgar as pessoas.
É dificil não ter pré-conceitos.
Nossa mente trabalha o tempo todo com variáveis, calculando as melhores chances de sucesso e associações. É daí que surge nossos instintos. E os dados aparecem simplesmente da nossa experiência de vida.
Mas também é dessas experiências que tiramos nossos conceitos do que é certo e errado. Nossos conceitos pré-determinados. Por isso, é tudo tão cultural.
Existiu essa mulher que cometeu aborto. E meu coração tremeu.
Posso entender exatamente muitos motivos para não se ter filhos.
Mas essa questão é tão passada e dificil. Sobre assassinato.
Como resistir ao medo de ir para o inferno?
Onde é mesmo que ele fica?
Martelando aqui, em nossas mentes.
Temos muitos medos, principalmente das armadilhas que criamos.
Quem disse que é errado usar meias e sandálias?
Nós. pessoas. Apenas seres humanos. O que podemos saber sobre o certo e o errado das leis universais?
Leis? Um conjunto de regras para assegurar a ordem.
Como as leis da física. Você simplesmente não pode por conta própria alçar vôo.
Leis para manter a coerência.
O que tem tudo isso haver? Sobre assassinatos de embriões.
Quem disse que é errado ser egoísta? Quem disse que é errado querer ter um filho com uma pessoa melhor?
Não quero convencer sobre aborto.
Acredito, em um conjnto maior de possibilidades. Em dar uma chance melhor para aquela alma ser amada. Do que simplesmente ser jogada na sarjeta da sociedade. É hipocrisia dizer que se nascer mesmo assim, é melhor.
"Mesmo assim", não é suficiente.
"Mesmo assim", não é comida, é resto que acham no lixão.
"Mesmo assim", não é educação. É uma professora com formação dúbia e um pedaço de giz no meio do sertão.
"Mesmo assim", não é vida. É ser renegado pelo resto de nós. Que no fim, em conjnto podemos ser egoístas.
Não estou dizendo que sou perfeita. Porque hoje, em tempos que se fala de politicamente correto, tenho que me explicar e me desculpar.
Você gostaria de já nascer rejeitado, e ser criado, "mesmo assim", ou gostaria de ter um pai atencioso, uma mãe participativa?
Em tempos em que temos o maior conjunto de informação de todos os tempos, exposto à todo o mundo. (excluindo, claro, os que vivem com a censura, porque um ser humano, pessoa como qualquer um de nós, decidiu que "mesmo assim" era liberdade.), em tempos assim, não podemos ter autonomia.
Meu coração aperta, porque contraditoriamente, penso que era melhor ter nascido "mesmo assim". Sinto pena e remorso por aquele embrião e fico imaginando se ele sentia dor.
Alguns minutos de dor, por essa vida aqui, repleta de dor. Dor, na maioria das vezes reprimidas. Porque qualquer dor é medicada, e mesmo que não tenham encontrado nada para a dor da alma, medicamos mesmo assim. Quero ficar um pouco aqui e chorar. E sentir essa perda e não ser taxada de anormal!
Ao mesmo tempo, estive do outro lado da moeda.
Uma mulher que gostaria de ser mãe, mas teve esses seus direitos negados por uma má formação uterina e um problema cardíaco. Ela queria se conformar, mas também queria uma pequena chance.
A gente se acostuma. Mas não esquece. A gente vive, "mesmo assim".
Sou totalmente a favor de superação. Mas se existe a mínima chance de mudar tudo o que eu tive que superar. Eu a buscaria.
Engraçado como no exato momento em que digitei essa sentença, entendi como também estou sendo hipócrita.
Há alguns minutos me sentia gorda, pensando que poderia me esforçar para perder um poco de peso.
Eu poderia me acostumar à esses quilinhos.
Superar a crise e o marketing desenfreado do sexy magro. Ou poderia lutar, porque existe uma chance razoavel de eu conseguir.
É mais fácil me acostumar. Do que passar por todo o drama de no final não conseguir.
Porque além de tudo, somos proibidos de sofrer.
No fim, ela saiu do consultório buscando sua chance. Sua mínima chance de conseguir engravidar.
Sinceramente, não sei dizer se houve algum bem, em qualquer das partes.