DE QUE SABEMOS,  AFINAL?




... E, no entanto, SABER, entendido como forma de acumular conhecimentos,  parece ser uma forma de reduzir possibilidades de realmente conhecer, pois saber, de verdade, é bem mais do que entender, mais até do que sentir,  é, quem sabe, intuir com todas as células, algo que nossa mente não consegue traduzir com seus signos frios e exatos, e o poeta nas suas indagações e aparente caos de significados está a revelar com sentires que escapam à mera racionalidade. Saber é apenas sobrevoar e nunca fazer um pouso de contato e revelação.

O que sei afinal de meus verdadeiros impulsos e vontades, pois se ora estou a querer o céu intacto como ora me afundo em danação profunda. E este lago de nossas percepções é uma areia movediça aonde geralmente afundamos e nos afogamos sem alcançar os motivos de um tal resultado.  

Tem dias que me pego falando comigo mesma e falar
 consigo mesmo é engraçado, às vezes a gente se prega umas mentiras e o nosso eu ingênuo ou desejoso de alguma coisa boa vai e faz que acredita. Seguidamente me pego mentindo pra mim que amar ainda vale pena. Me dá uma raiva danada porque tem uma aqui que adora acreditar. E fica este entrevero de idéias e vontades, a gente é mesmo pura contradição. E quando no melhor da festa nosso barco do amor vai ao fundo, ficamos mesmo perdidos como náufragos sem salva-vidas.

Mas fica fria minha irmã, fica fria...  É que a minha abóbora já virou carruagem há séculos, meu sapatinho de cristal perdeu-se nos trajetos de muitos anos, já sou agora a madrasta, a Rainha Má,  mas to viva, enfim, que é isso?

E ao contrário do que imaginam ou pensam os que se dizem racionais, que julgam ser sua carga de conhecimentos acumulados pela memória a sua grande bagagem, saber de si, alcançar a máxima do "nosce te ipsum",   nada tem a ver com tal carga que se limita a ocupar uma pequena parcela do nosso ser interno.  Só encontraremos respostas em um interior totalmente "vazio" de conceitos, idéias, fatos, preocupações, desejos.

Melhor que seja assim, isso vem mesmo a calhar quando pessoas angustiadas por uma vida aonde predominam os valores do ter, do sucesso, da aparência, querem  é se livrar do lixo acumulado de ruminações, angústias, frustrações.  E numa forma equivocada pensam logo   
 em soluções rápidas de atingir uma certa paz de espírito. E se lançam então  a soluções de curto prazo, que podem ser os  exercícios de yoga, tudo muito zen, bem como ir pular num terreiro de macumba, ou numa sessão de descarrego promovida pelos que adoram falar no demônio.   Pois somos indivíduos movidos por slogans, receitas de como viver melhor, idéias preconcebidas e egoísmos mal disfarçados.  Somos uns seres megalomaníacos e nos achamos os "ban ban" da escala zoológica e queremos reduzir a nossa humanidade a um código genético  e o nosso corpo a protótipos recheados de matéria não carnal para exibir a perfeição de andróides, somos patéticos mesmo ao desejar exibir como troféus,  corpos bombados e bundas siliconadas.  Um cientificismo exagerado nos reduziu erradamente a um corpo aonde tudo pode ser visto em aparelhos da mais moderna tecnologia, entretanto este dito corpo não passa de um envólucro, veículo através do qual a vida se manifesta. 

Sabemos sim é que com um pau se faz a canoa que vai nos levar rio abaixo, rio acima, na busca da sobrevivência, sempre podendo ser subsidiada por alguma maracutaia de ocasião, afinal temos que garantir um certo estoque dessa "madeira" antes que algum "inescrupuloso" tome tudo pra si. 

Saber enfim,  no sentido mais elaborado de perceber, intuir,  experimentar, seria uma espécie de salvo conduto para a eternidade, algo reservado a poucos indivíduos, uma espécie de anomalia ou aptidão que distingue algumas ciaturas do comum dos mortais. Pelo menos neste nosso ambiente dito civilizado, aonde o desejo e a cobiça pisaram em toda e qualquer forma de vida harmonizada com a natureza.

Já dizia o louco de plantão diante de sua casa,  ao lhe perguntarem se ele conhecia um tal fulano:  Eu não sei dele, eu sei é de mim!