Causos e mais causos
Pois é. Assim vivia-se em tempos passados. Nem só na cidade de interior.
Cadeira de vime na calçada e prosa depois da janta. Os vizinhos eram próximos. Todos se entendiam. A conversa, e às vezes cantoria, aos sábados varava as madrugadas.
Durante a semana, o relógio dava dez horas e o povo recolhia cadeiras, mesas pequenas, pratos com farinha de bolo, pois coisa boa não sobra, come-se até raspar, os pequenos copos de licor. O preferido era o de leite, guardado para dias de festa. Noite comum serviam jenipapo, amora, e outras delicadezas. A cachacinha também estava presente, doses pequenas, dia seguinte era de labuta. Descontavam nos sábados. Coisa fina, vinda de fazendas famosas.
E os cuasus? Talvez o mais famoso foi o de Verinha. Dezoito anos, rosto lindo, seios pequenos e moldados, cintura fina, quadris largos. Apareceu embuchada. Eliseu, seu namorado, levou a culpa na hora. No começo era só conversa do pessoal. A barriga cresceu, foi ao médico.
- Tem dois meses e alguns dias.
- Com certeza, doutor?
- Rasgo o meu diploma se estiver errado.
- Eu mato aquela putinha de porrada. Teve educação.
- Não é isso, não resolve nada. Procura o Temístocles. Foi o filho dele.
- Como sabe, doutor Renato?
- Jacintho, homem! Meu nome é Jacintho. Acalme-se. Não posso dizer o nome. Sigilo profissional.
- Mas se é sigilo, por causa de que o senhor me diz um nome?
- Para o pobre do Eliseu não levar a culpa.
Falou com a filha, irado.
- Pai, você não tem nada, dinheiro nenhum. Se eu me caso com o Vicentinho, vou ser dona também daquele mundaréu de terras e gado.
- E como tem certeza?
- O pai do neném nem é o boboca do Eliseu, nem o Vicentinho.
- Mas então...
- É do meu querido Temístocles, o homem mais rico e mais homem desta região.
Histórias da vida, queiram ou não.