AS BOLSAS

Existem hoje, no Brasil, três tipos de bolsas: a Bolsa de Valores, a bolsa de mulher e a (o) Bolsa Família.

Da primeira Bolsa eu entendo pouco, por isso não vou me arriscar a dar piteco. Só sei que lá são feitos grandes negócios, que é um sobe e desce, que aquela multidão parece fera enjaulada, andando de um lado para outro com celulares nos ouvidos, gritando com se estivesse irrompendo um incêndio de grandes proporções.

Da segunda bolsa eu entendo bem. Afinal ela é quase uma extensão do meu braço. Ali tem de tudo. É uma mini casa ambulante. É o batom e as escovas que não podem faltar, lenços e documentos (porque sem eles, só o Caetano), quase nada de dinheiro (afinal sou professora), papéis, agenda, chaves, celular e o meu constante companheiro (do mal) o cigarro. Sem essa bolsa eu me sinto nua. Não sei ir à esquina sem ela. Aliás, alguém já viu mulher sem bolsa? Chego a pensar que ambas foram criadas ao mesmo tempo... Se a gente "furungar" melhor a história talvez descubra que a Eva, além da folha de parreira, usava uma bolsa feita de folha de bananeira ou quem sabe de coco ou porongo.

Quanto a terceira bolsa ou o Bolsa, já que é um programa, tenho um certo conhecimento, pois trabalhei próximo a um local onde se fazia o controle da frequência dos alunos, cujas famílias recebiam o Bolsa Família. E vi algumas coisas que me chamaram a atenção. Certa ocasião, uma mulher chegou no setor, apavorada, porque tinham interrompido o benefício (o filho estava infrequente na escola). A pessoa responsável disse que reimplantaria no sistema, mas o recomeço do benefício demoraria uns tempos. Ela disse: "Mas, agora, como vou fazer para pagar a prestação da TV nova?".

Não sou contra o Bolsa Família. Reconheço que tem seu lado bom, que é manter a criança na escola. Mas não acredito que resolva o problema da miséria no País. É apenas um paliativo, pois não impulsiona o desenvolvimento econômico da família. Se, por outro lado, o governo financiasse um programa de cursos técnicos, que possibilitasse aos pais aprenderem uma profissão, creio que os resultados seriam mais positivos a médio prazo. Porque emprego existe, o que falta é mão-de-obra especializada. Ouve-se falar sempre de vagas não preenchidas, em determinados setores, por falta de conhecimento técnico do candidato. Alguém vai dizer que isso não "mata" a fome do pobre, porque estudo não enche barriga. Mas poderia ser dado um auxílio financeiro, com a exigência da frequência ao curso, a exemplo do Bolsa atual. Com a diferença que, ao final do curso, a família teria condições de trabalhar e o auxílio não seria mais necessário. Plagiando o velho ditado que diz: "Em vez de dar o peixe, ensine a pescar". Porque pobreza se combate com Educação e Trabalho, não com esmolas. Dar condições de trabalho é como uma vacina que extingue a miséria, a exemplo da vacina que erradicou a paralisia infantil do território brasileiro.

Mas, será que isso interessa aos donos do poder, ao status quo vigente?

Giustina
Enviado por Giustina em 09/05/2010
Reeditado em 11/02/2014
Código do texto: T2247557
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