O futuro dos homens

Perdoe-me minha simplicidade. É a primeira vez que escrevo algo sobre mim. Não estou acostumado a deixar explícitos os meus pensamentos. Pelo menos em primeira pessoa. Também não estou acostumado com computador. Não sou tão moderninho assim. Mas um jovem escritor tem que se adaptar a essas novidades, essas inovações. Por falta de costume e por eu ser tão prematuro, perdoe-me novamente pela extensão dessa história que vou-lhes contar. É sobre uma conversa minha com um amigo meu, Joaquim, o jornalista.

Estávamos sentados num banco de praça. Era fim de tarde. O Sol já se escondia. Ficava no céu aquela mancha alaranjada do poente paulista. Era primavera. As árvores cheias de flores e frutos. Era setembro, e uma leve friagem nos rondava devido ao horário das seis da tarde.

Voltei-me a Joaquim, que estava ao meu lado. Percebi que ele olhava o céu. Disse-me:

- Não é belo o avião? Na minha época era muitíssimo raro vê-lo com tanta freqüência. Leva-nos a qualquer lugar em tão curto tempo!

- Sim é muito bonito mesmo! Perceba as linhas que deixa no céu!

- É a velocidade, o movimento! Rasga o céu, partindo as nuvens ao meio!

- Parece pintura! Esse é o futuro dos homens.

Joaquim carregava um livro consigo. “Macunaíma” de Mario de Andrade.

- De quando é esse livro? – perguntei

- Só depois da semana de vinte e dois que esse livro saiu do datilógrafo. O modo em que o autor mistura as origens brasileiras com a modernidade vinda do exterior é fantástico. Nessa época o livro era considerado o futuro dos homens – disse Joaquim, que logo recitou um trecho quando o índio “herói” se depara com a cidade de São Paulo.

Olhamos em seguida para o horizonte. Vimos o Sol já adormecido quase por completo. Entre as árvores um orelhão tocava. Um estranho atendeu: “Olá amigo! Por que não ligou em meu celular?”.

No tempo de meus avós, o contato entre pessoas ainda era por cartas e correspondências. Só os muito ricos possuíam telefone fixo. Aquele ainda de fio encaracolado. Hoje eu, aquele estranho, aquela menina na esquina, o amigo ao meu lado. Todos hoje têm celular.

As luzes do parque se ascenderam. Começava a esfriar mais. Joaquim virou-se e falou:

- Vamos, já escurece. Tenho que chegar em casa e mandar um e-mail para um colunista do Jornal Paulista, que está na Europa.

Então fomos para fora do parque. Joaquim entrou em seu carro. Eu entrei na estação de metrô. Desci na Avenida Paulista. Olhei as luzes que a iluminava. O porteiro do prédio destravou o portão automático. Entrei no elevador. Em casa joguei-me no sofá, liguei a televisão. Assisti aos filmes da sessão Coruja e adormeci.