Sargento não é pai
Outro dia, um senhor, lendo sobre o infeliz Michael jackson, disse que o pai dele estava certo em ter agido como agiu com ele, que Michael só se tornou um grande artista graças ao pai e que, no fim da vida, tinha reconhecido que, se o pai não houvesse sido duro com ele, não teria dado o melhor de si. Acrescentou o sábio homem que só se consegue educar os filhos se se seguir um regime duro como o do Exército. Estranho, muito estranho.
Michael Jackson pode ter se tornado um grande artista, mas foi um homem extremamente infeliz, que, até o fim da vida, não conseguiu se encontrar.Cresceu aterrorizado pelas surras e ameaças, não teve infância, sofreu zombarias do próprio pai quanto à sua aparência física. Não conseguiu se aceitar. Em todas as entrevistas que dele soube, ele não perdia uma chance de satanizar o pai.
Perguntemo-nos se o pai do coitado o fez ser artista visando ao bem do filho ou ao próprio. E soa estranho alguém dizer que um pai tem que ser como um sargento ou técnico de esporte, porque, se não gritar ou for duro com os filhos, eles não se desenvolverão.
O respeitável senhor deveria lembrar que sargento não é pai, não está lá para dar amor, exemplo ou educar. Sargento não tem vínculo afetivo ou de sangue com os soldados. Pai, sim. Pai não é apenas para repreender e exigir que os filhos ajam certo, mas para amar e apoiar. Michael Jackson não deveria ver no pai alguém a quem ele poderia recorrer pedindo auxílio, mas como um carrasco, sempre com um cinto na mão, de olhar amedrontador e que o explorou de todas as formas.
De nada adiantou ao astro ter se tornado um grande músico. Era um homem que se perdeu para o mundo, preso em um microcosmo de excentricidades.
Soldados sabem muito bem que o sargento não irá afagá-los ou ser um pai. Não esperam isso dele. Um filho espera que um pai seja alguém que ofereça amor e segurança, mostre-lhe como viver, ensine-o achar seu lugar no mundo, com coragem, de cabeça erguida. Pais devem mostrar aos filhos que eles têm valor.