MÃE: VERSÃO ATUALIZADA

Uma folha de caderno arrancada. As bordas enfeitadas a lápis de cor. O desenho de uma casinha, um pequeno jardim e uma molequinha com uma vassoura na mão. Abaixo a frase: “Mamãe, você é a rainha do lar”. Há quanto tempo fiz a “cartinha” para minha mãe? Não sei calcular. E o papel não traz a data. Mas a frase me dá uma pista. Foi no tempo em que as mães eram chamadas “rainha do lar”. Então faz muito, muito tempo, tenho certeza...

Quem era a mãe rainha do lar? Pra começar, aquela que tinha todos os filhos que “Deus mandasse”. E ele mandava dez, doze, quinze, até dezoito ou mais. Era generoso com as mães. Na verdade os mandava até que elas não tivessem mais capacidade para gerar. A “rainha” era riquíssima em prendas domésticas. Sabia lavar, passar, cozinhar, arrumar, lustrar costurar, bordar, cerzir, tricotar e mais um monte de “ar” que acabava por deixá-la completamente sem ar, ao fim do dia. Coitada da rainha! Toda torta e sem ar de tanto trabalhar...

O marido naturalmente era o “Rei”! Sim, marido de rainha não é rei? Pelo menos no lar. Então ao rei, literalmente, o trono. Comida prontinha, roupa cheirosa, casa brilhando, lençóis macios. Tudo em tempo e hora. Deus criou a mulher “Para que nela o marido cansado e zangado encontre descanso, e os filhos amor e a família piedade e todos em geral acolhimento agradável”. Essa, a visão de Luis de León, ao se referir à mulher e à mãe da Idade Média e na época do Renascimento, em seu livro “A perfeita mulher casada”.

O mundo mudou, as mulheres mudaram, as mães também. Pra melhor, ou pra pior? Nenhuma mudança tem apenas um lado. Nunca é só pra melhor, ou só pra pior. Mudanças geram conflitos, e trazem junto as consequências. A vida moderna absorveu a mulher e junto levou a mãe. Hoje elas não são rainhas e nem têm reis por companheiros. São apenas mulheres, mães, que trabalham, que criam filhos, que enfrentam dificuldades de toda ordem. Lutam, são verdadeiras guerreiras. Só numa coisa continuam como antigamente: na capacidade de se doar e amar os filhos.

Olho a cartinha que um dia fiz para minha mãe. Está velha, desbotada. Tão desgastada que mal posso enxergar a molequinha de vassoura na mão. Vivemos outros tempos. Mas com orgulho ainda penso: como foi corajosa a minha rainha. Ao lado de seu rei, que já partiu, conseguiu governar digna e honradamente o seu modesto e grandioso reino...