O HOMEM QUE SABIA NADA

Ao longo da vida, já presenciei coisas que até mesmo o mais crédulo dos homens me olharia torto. Já ouvi histórias sobre elefantes de seis patas, macaco falante e mulher que fazia a barba todos os dias. Mas, em especial um me pareceu tão maluco que resolvo aqui contar.

Em Pindamonhangaba, conheci um homem que dizia saber nada. Achei que era uma piada do indivíduo, mas o depoimento de pessoas que faziam parte do meu conhecimento, uma delas até ilustre, contavam histórias que eu acabei anotando no meu diário de viagem, e que aqui transcrevo.

Arnaldo Nadário nasceu em Pindamonhangaba em mil novecentos e nada. Cresceu com uma mania muito peculiar. Nadinho, como ficou conhecido por todos, gostava de nada, brincava de nada. Dizia que a coisa mais divertida do mundo era fazer nada. E, nada, fazia o dia inteiro.

Dizem que, quando entrou no grupo escolar, vivia no castigo por não fazer nada. Mas o menino se dizia injustiçado, pois ele dizia que fazia sim, já que para ele o “nada” era o seu “tudo”, portanto fazer nada era fazer algo.

O menino cresceu, tornou-se pré-adolescente, adolescente e homem. Nunca mudou sua atitude em relação a sua mania. Dizia-se um especialista na arte de fazer nada. Era o maestro nesse concerto silencioso, um perito na ciência do nada. Enfim, um homem que fez do “nada” sua religião.

Acusado de estar o tempo todo ocioso, pelas pessoas que com ele conviviam, acabou indo procurar emprego. Em sua primeira entrevista já foi falando de suas habilidades:

- Sou um homem especialista em fazer nada, sou um profundo conhecedor de nada, estou disposto a fazer nada o tempo todo, e oferecer a sua empresa o melhor de mim, ou seja, o meu nada...

- Mas, meu senhor – interrompeu o entrevistador, meio perplexo com aquela conversa sobre nada, nada e mais nada – como posso contratar alguém que não sabe fazer nada?!

- Engana-se, meu senhor – disse ele, com certa indignação e orgulho ferido – O senhor não prestou atenção em nada que eu disse. Como eu não sei fazer nada se nada é o que eu mais sei fazer na vida?!

O entrevistador, atônito, ficou ali sem saber o que dizer. Mas, Nadinho logo quebrou o silêncio:

E então, quanto vai me pagar para fazer nada?

O homem, impaciente, já achando tudo aquilo um abuso, esmurrou a mesa e disse com muita convicção:

- Nada! Lhe pago nada! O que mais poderia pagar para o senhor depois dessa falação sobre nada?

- Fechado! – disse Nadinho, feliz – Quando posso começar?

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