Fazendo Visitas
Fazendo Visitas
Sou uma visitadora. Passo o tempo todo fazendo visitas. Inclusive, me sinto como o anjo Gabriel, chegando até Maria para dar a grande notícia. Pois é isso que faço: dou a notícia e sou a própria notícia. Sou apaixonada por visitas, pois, penso que visitar é reconfortante, além de ser meu trabalho, é meu passa tempo favorito.
Durante esta minha vida já visitei muita gente que já perdi as contas. Fazer o que, sou um pouco sem memória! Mas há algumas visitas que não dá para esquecer. Pelo meu caminho costumo entrar subitamente nas casas e encontrar as pessoas tão distraídas ou descontraídas que elas nem tem tempo de se arrumarem. Não pensem que faço isso de forma aleatória, que as escolho por acaso, assim como em um jogo de dados que ora cai de um lado, ora de outro.
Já visitei pessoas de todos os tipos, cor, idades e até pessoas que se acham mais inteligentes, sábias ou melhores do que as outras, bem como ricos e pobres em todas as nações.
Sou de visitar muita gente. E algumas já estão tão preparadas para me receber, que chego de mansinho que até temos tempo de bater um papinho antes de partir. O tempo já não me incomoda e por isso ficamos conversando sobre coisas comuns do dia-a-dia, da vida, o que foi feito e também sobre aquilo que deixou de ser feito. Outro dia, numa de minhas visitas, deparei com meu amigo tão à vontade e sem mais nada para fazer, que saímos tranquilamente pela porta e fomos passear; ele sorrindo como criança feliz.
Confesso que antigamente eu trabalhava para apenas um patrão. A minha fama se espalhou, e me desculpe pela minha falta de modéstia, mas é por causa da minha eficiência, e nisso ninguém se iguala a mim!
Vários já contrataram os meus serviços, e cada dia recebo mais propostas e penso que talvez eu não dê conta de tanto trabalho.
Cada dia que passa, estou ficando mais cansada; a necessidade das visitas aumentou vertiginosamente. Com o acúmulo de trabalho: as minhas visitas que antes eu fazia com toda calma, passaram a ser feitas de forma mais rápida e inesperada, de tal modo que não está dando nem tempo de dizer um ‘olá’ a quem quer que seja. Estou trabalhando sob grande pressão, parece que estou ganhando por produção. Meus patrões estão bafejando às minhas costas, me fazendo trabalhar cada vez mais; eles gostam dos números e querem vê-los crescerem rapidamente.
Sei que estou desobedecendo a Lei do Criador, meu primeiro patrão, que diz: “Não podeis servir a dois senhores”. Não resisti... sou convocada aqui e ali, sou muito requisitada e não consigo dizer “não”.
Com o avanço da Ciência e da Técnica, as coisas mudaram muito no mundo. Tudo está se passando pela inovação. Tudo está mais eficiente. E eu não poderia ficar para trás!
Devo dizer que o tempo e o mundo me deram muita experiência e também inovei o meu jeito de fazer as visitas. Primeiro mando lembranças e faço isto por cartas, ondas do rádio, da TV e via Internet. Através dos automóveis, da comida, da bebida... atuo de vários modos que você nem imagina que possa existir. Admito que sou bastante criativa!
Existem lugares que particularmente eu não gostaria de ter que ir. São àquelas casas em que as pessoas não estão cumprindo o seu dever de acordo com a vontade de meu primeiro patrão. Vou adiando minha chegada até entenderem que não devem viver assim. A cada dia vou lhes dando a chance de abrandarem seus corações tão duros, de se tornarem pessoas melhores e poder me receber mais dignamente, às vezes perco a paciência e não as espero! Algumas até adiantam a minha chegada e quando se arrependem já é muito tarde. Existem pessoas que vivem fugindo de mim; outras tão atarefadas que sequer se lembram. Ouvem falar e faz pouco caso e quando chego de surpresa é um Deus nos acuda. Para eles sou tão horrível que ficam paralisadas, acho que eu deveria fazer uma plástica!
Não costumo visitar as pessoas mais de uma vez, mas isto aconteceu a mais de dois mil anos. Já duelei com um e perdi, também pudera ele é o filho do meu Senhor. Fico muito triste de perceber que muitos não estão preparados para me receber. E saber que sou ponte (passagem), que transporto todos para um estágio mais divino; sou eu quem garante o nascimento de cada um para o qual foi criado. Sou o novo êxodo!
Com certeza visitarei a todos, e não se preocupe porque ainda terei um tempinho para você. Quem sabe, você seja o próximo? Creio que você já tenha sentido a minha presença algumas vezes. Espero que esteja preparado para me receber de forma mais decente! Não sei dizer as minhas características, se sou feia ou bonita, pois isto depende muito da visão de cada um. Não vou dizer meu nome, pois sou chamada de várias maneiras e tenho muitos apelidos, quem sabe você até invente mais um. Ah! Como sou mal educada! Nem me apresentei! Mas já te conheço: Muito prazer sou a Morte!