A ÁRVORE QUE CHORA
Todos os dias são muito quentes na cidade de Mossoró, no Estado do Rio Grande do Norte. Geralmente o sol nasce cedinho, ali pelas cinco horas da manhã, e já desponta jorrando seus raios incandescentes sobre os cidadãos como se pretendesse cozinhá-los logo ao amanhecer. Mas é justamente esse o horário escolhido pelas mães para proporcionar o banho de sol diário aos seus recém nascidos tendo em vista que, embora quente, tem a temperatura ideal para a pele sensível dos pequeninos.
Foi num desses alvoreceres cotidianos que uma jovem senhora, passeando com o seu bebê na rua onde morava, viu algo que a surpreendeu dado o inusitado da cena, posto não ter chovido há dias e não poderia haver explicação para o que ela presenciava naquele momento: a velha algarobeira plantada à frente da casa da vizinha, sem nenhuma razão plausível, exsudava abundante como se estivesse muito suada, os diversos pingos aflorando de seus galhos e folhas parecendo lágrimas torrenciais de olhos tristes. O mais impressionante, contudo, eram os visíveis traços de neve em diversas partes da árvore dando a nítida impressão de que havia nevado durante a madrugada - algo verdadeiramente impossível de acontecer no Nordeste, a região de sol mais escaldante do Brasil. Assustada ao deparar com tamanha estranheza, a mulher imediatamente espalhou a notícia isobre a descoberta que fizera e logo a população inteira tomou conhecimento.
Encantados mas também espantados por estarem diante do que acreditaram tratar-se de insofismável milagre, os cidadãos mossoroenses acorreram ao local para testemunhar o choro da árvore como passaram a denominar o acontecimento. Em pouco tempo formou-se uma grande multidão à frente da agora cognominada árvore milagrosa. Alguns se benziam, levantavam as mãos para o céu e rezavam, outros, boquiabertos, quedavam admirando o respingar das "lágrimas" bradando entre si que se tratava da mão de Deus agindo, enfim cada um, em solene admiração e respeito, dava vazão aos sentimentos.
Quando a mídia televisiva soube da novidade, óbvio, destacou repórteres para cobrir o "furo", e o que começou numa ruazinha da pequena cidade ganhou proporções gigantescas, por essa razão o Estado todo ficou a par dessa ocorrência nada comum. E o que se via nas imagens da TV, realmente, eram os intermináveis pingos em forma de lágrimas descendo da árvore e os flocos de "neve" colados aos galhos e causando espanto. Como era de esperar, muitos dos entrevistados pelo repórter afirmavam de pés juntos e olhos rútilos que o choro constante e a neve embranquecendo a árvore sem dúvida não poderia ser outra coisa, senão um sublime milagre. O único agrônomo presente no local declarou não ter elementos plausíveis para determinar a razão daquele fenômeno diferente, mas especulava que talvez alguns fungos ou outro tipo de doença típica dos vegetais poderia ter causado tanto as ininterruptas gotas dágua quanto a pretensa neve.
Essa história é real e ainda não terminou. Até agora, sem qualquer explicação científica, a árvore continua "chorando" e coberta pela "neve" enquanto as pessoas se agitam de todas as formas por não conhecerem a razão desse insólito e nunca antes vislumbrado acontecimento. E ficam no ar as indagações dos céticos, porque os religiosos tempestivamente definiram o fato como milagre: será que a árvore está "chorando" mesmo? E a "neve" que a embranquece de onde terá vindo?