Estacionei o carro na garagem e adentrei à casa.
Ouvi o telefone que insistia em ser atendido... uma ‘amiga’ - daquelas que falam, sem jamais descarregar a pilha - insistia em alongar a conversa,que em nada me atraía. Permaneci muda... ouvindo-a, sem sequer, concordar ou discordar com o assunto. Estava cansada demais, impaciente demais e solícita de menos.

Comumente, não faz parte do meu caráter ir de encontro às opiniões alheias. Há os que discutem, teimam, e se agridem, tentando impor suas ideias e convicções. Detesto imposições e teimosias. Não costumo insistir em me fazer ouvir. Duelar verbalmente, não faz meu gênero. Nada tenho que provar ou competir... Sou o que sou; creio no que creio; meu caráter está formado. Tudo quanto, ainda possa acrescentar-lhe deve estar em coerência com às minhas convicções. Não sou como as ondas do mar - que vão e voltam - ... Sou igual ao trigo em meio ao joio: durante as fortes ventanias, o trigo se dobra e vai ao chão, ao passo que o joio fica ereto. Isso, não denoda altivez,diante das intempéries, mas orgulho e inflexibilidade, prepotência e arrogância... Posicionamento peculiar aos loucos. Às minhas convicções, são minhas. Costumo respeitar, mesmo não aceitando, as convicções alheias. Se me questionam sobre o que creio, respondo, porém, jamais irei de encontro aos demais, alongando-me em controvérsias.

– Estás aí?
– Sim, estou!
– Sentes alguma coisa?
– Sim! Cansaço... Muito cansaço!

Cheguei a pouco..., após um cansativo dia de trabalho; com o meu corpo e mente cansados e alma exaurida. Quanta coisa vemos e passamos, nessa vida! Um banho e, sorver o silêncio, era o que desejava. No máximo, ouvir música ambiente... Queria deitar, relaxar... Ah! Uma boa, eficaz massagem... Mãos, que percorressem o meu corpo, aliviando-me da exaustão; desejava olhos que me vissem com os olhos d’alma e que se preocupassem, apenas, com o meu bem estar. Mãos que não me trabalhassem, como faz o ‘bom cozinheiro’ ao preparar, com esmero, um prato prestes a ser devorado.

– Onde estavas, menina? Aonde foste?
Respandi-lhe: Passei o dia em meio aos lobos; em meio a hipocrisia, risos entre
dentes; recebi abraços, cujas mãos acariciavam-me os ombros, quando em verdade, desejavam encravar-me às unhas;ouvi vozes, aparentemente mansas, mas que em espírito soavam como que grunhidos. Abraços, iguais aos exaustores domésticos..., desejosos de sugarem a alma dos abraçados.
– Deus! Onde você estava, mulher? No inferno?
– Não! Os de lá me são submissos! Eu estava onde muitos louvam a Deus; em meio da falsa santidade, de muitos e sinceridade de poucos... SOU PASTORA!


EstherRogessi,Conto: Em Meio aos Lobos! Categoria: Narrativa.06/05/10
EstherRogessi
Enviado por EstherRogessi em 07/05/2010
Reeditado em 28/04/2016
Código do texto: T2242977
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