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VEJO LIVROS COMO AMIGOS COMPANHEIROS!
Andei um tempo absorta. Analítica. Poucas palavras faladas, muitas escritas. Fase que chamo de transição e crescimento. Enquanto escrevia um texto, interrompi por alguns minutos e olhei para os livros dispostos sobre a mesa. Parecia que os ouvia confabulando entre si:
- O que aconteceu com ela, por que não nos visita mais, nem nos acarinha com suas mãos calorosas? – Quis saber “Oração aos moços” de Rui Barbosa.
- Anda tão distante, pálida e fria! – Brincou “ Os Sete” o livro sobre vampiros de André Vianco.
- Será que já sabe tudo, adquiriu todo conhecimento e não precisa mais de nós!? – Preocupou-se Houaiss, o dicionário.
- Calma, amigos! Ela deve estar passando por momentos delicados, ponderou suavemente “O poder da Gentileza” de Rosana Braga.
- Se for mal físico, posso indicar-lhe um santo remédio! Afirmou “Guia de Medicina Homeopática”, de Nilo Cairo.
No canto do armário, longe dos outros livros, porém atento as suas inquietações, o Livro dos livros, a Bíblia que nada dizia, abriu-se em sabedoria e explicou:
- Amados, por acaso não sabeis que há tempo para tudo debaixo do Sol? Acaso esqueceis das minhas leituras? Ouvi o que trago em Eclesiastes:
“- Tudo tem a sua ocasião própria, e há tempo para todo propósito debaixo do céu... (...)tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar...”
E, continuando placidamente, a Sagrada Escritura concluiu:
- Precisamos do silêncio, assim descobrimos seu valor e aprendemos ouvir o outro. Precisamos da fala para confortar um amigo que necessita de consolo. Precisamos de cada tempo para cada ocasião que se faz necessário em nosso interior. Ela está no tempo de calar. É quando mais se aprende, caros amigos. Em breve estará repleta de riquezas para partilhar. Logo, logo voltará para perto de vocês!
Ouvindo as sábias considerações da Bílbia, os livros pareceram aliviados e felizes. Interrompi meu texto. Achei melhor esclarecer minha introspecção. Aproximei-me dos livros. Toquei-os um a um. Havia boa energia neles. Podia sentir ao simples toque em suas páginas. Sim! Estavam felizes. Estávamos todos. Minha riqueza vinha deles. Saberes recebidos com prazer. Nem me importei de parecer louca ou ridícula e lhes confessei:
- Livros queridos! Não os abandonei. Estou no tempo de querer esvaziar. Por isso tenho escrito mais do que lido. E não sei tudo! Nem desejo saber. Quero ter sempre a sede de aprender algo diferente. Quero provar de sentimentos novos. Estou em fase transformação. Estou cheia de emoções! Se não escrevo, meus sentimentos vazam pelos olhos. E chega do tempo das lágrimas! Quero viver feliz. Sorrir com o corpo inteiro manifestado em gestos, dança, abraços.
Ao terminar de falar, ouvi um livro dizer para mim como se tocasse minha alma:
- Eu vejo você.
Sorri entendendo. Ele queria dizer que me via além da aparência. Como no filme “Avatar”, o livro “Grandes Esperanças”, de Charles Dickens podia me ver o interior.
Por algum momento estranhei um livro antigo saber temas modernos. Só depois assimilei que livros não envelhecem! Eles se renovam em sabedoria e conhecimento a cada vez que um leitor os têm em mãos.
Quando o leitor abre um livro, leva o seu presente para dentro dele e traz o passado contido no livro para fora, para os dias atuais. É como se tomássemos um chá ou um chop com o autor. Atualizamos ideias, trocamos experiências de vida. Enriquecemos!
Feliz com aquela conversa literária, prometi aos livros que os abraçaria com maior frequência e que e leria mais o interior de pessoas amigas...
“I SEE YOU!”