O CAMINHANTE DE RUA

Ontem o encontrei novamente, pois voltei a praticar minha caminhada matinal. Prefiro chamá-lo assim, nunca o vi fazendo parte de algum grupo de viciados, em álcool ou droga, tampouco soube que é pedinte. Porte alto, moreno, sempre com o olhar perdido, cabelos grisalhos, hoje algo brilhantes, não sei se por tê-los molhado ao lavar-se ou o orvalho da noite tenha contribuído para que ficassem assim, cobertor sobre os ombros, suas roupas como sempre, dignas, não sendo sob medida, não são rotas nem maltrapilhas. Junto a sua perna esquerda, o cão, preto com uma mancha branca na pata traseira esquerda, atento, educado, pois não late ou corre fazendo alarde com as matilhas que perambulam próximo a elevada do trensurb, que corta nossa cidade.

Dizem tratar-se de um militar, que por fatalidade deixou uma granada em lugar indevido, causando um acidente que mutilou para sempre um jovem soldado sob seu comando, condenado em inquérito militar passou a viver, como seu olhar, em um mundo distante.

Ontem surpreendeu-me, quando das vezes anteriores em que nos cruzamos, sempre o cumprimentei, recebendo de volta um cordial, mas seco bom dia. Porém desta vez algo mudou, ao nos aproximar, olhei-lhe de frente e como sempre lhe dirigi um...

- BOM DIA!!!

Não respondeu, no entanto abriu um largo sorriso, fazendo com que eu me sentisse parte de seu mundo perdido. Iluminou o meu dia.