Minhas estórias não serão mais as mesmas.


Descobri hoje, chocada, que as estórias da minha infância precisam ser reescritas. Precisam perder o som arredondado, o algo de suspiro, a insinuação de sorriso. Sob pena de não mais existirem.

Hoje descobri. Nunca existiu “estória”. Foi apenas uma palavra proposta. Não contaram quem propôs. Recomenda-se o uso da palavra “história”. Não disseram quem recomenda, mas parecia sério.

Obediente e aplicada, ainda que desolada, reli alguns textos e removi a palavra, colocando no lugar a organizada, geométrica e objetiva “história”.

Num passe de mágica, um parágrafo doce perdeu metade do encanto.

O avô quase parou de sorrir, a Sininho recusou-se a voar, Wendy tapou os olhos dos meninos para que não vissem, a Emília disse uma asneira... foi um rebuliço no conto.

Desfiz as alterações, escondida, torcendo para que ninguém perceba.

E estou aqui, em luto, velando a minha palavra. Neguei, enfureci, deprimi. Ainda não aceitei a perda.

Por favor, tenham paciência. Assim que eu puder eu guardo as minhas estórias dentro de mim e as removo do papel. Hoje, não dá.

(Junho de 2009)