VACA ERVADA

“Seu” Quinzinho, sitiante lá pras bandas do Pompeu, estava quieto no Bar do Tonhão, sentado à mesa lá dos fundos, discreto, pensativo, quando adentrou o boteco um tal de Jesualdo, o valentão do lugarejo, tremendo criador de casos. Àquela hora de pasmaceira, lá pelas três da tarde, havia apenas ele, Quinzinho, e mais dois rapazes bebericando uma cerveja e jogando conversa fora, trabalhadores da lavoura, talvez curtindo uma folguinha na sua árdua labuta diária.

Esse tal de Jesualdo tinha a mania de chegar à mesa dos outros e, num gesto esquisito, pegar um copo de bebida da pessoa e virar o conteúdo num gole só, apenas a título de provocação. Lógico, o sujeito engrossava, o baderneiro desafiava para a briga e a turma do “deixa disso” entrava em ação. Mas às vezes nem dava tempo de apartar e o pau quebrava pra valer.

Pois nessa tarde, o Jesualdo acercou-se da mesa do “Seu” Quinzinho, deu um bicudo na cadeira vazia ao seu lado, pegou o copo cheio sobre a mesa e virou a bebida duma vez só, raspando a garganta, cuspindo de banda e soltando seu vozeirão:-

“- E aí? Não vai reagir não??? ...”

O sitiante virou-se e, na maior pachorra, respondeu-lhe calmamente:-

“- Não, Jesualdo, num vou não! Hoje eu acordei cedo, briguei com minha mulher porque peguei ela com o meu compadre, fui ver meu gadinho e topei com uma vaca ervada, a qual me produzia, só ela, mais de vinte litros de leite por dia, vi que minha plantação de milho tava bichada e cheia de erva daninha, etc., etc., etc. E aí me entra você, Jesualdo, chuta a cadeira e ainda emborca o copo de veneno que eu ia beber daqui a pouquinho, “seu”! Fica frio, num vou reagir não, “seu”! ...

-o-o-o-o-o-

B.Hte., 06/5/10

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 06/05/2010
Reeditado em 06/05/2010
Código do texto: T2240461
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