A minha garganta secou quando a enorme mole de aço finalmente tombou e desapareceu nas águas no meio de um turbilhão. As lentes do binóculo embaciaram com o suor nervoso, apesar do ambiente gelado da sala de Posicionamento Dinâmico, meu ponto de observação para assistir, incrédulo, os momentos finais da P36 que agonizava a umas três milhas da minha unidade.
A cena foi absolutamente chocante, por múltiplas razões, sendo a principal a de eu não acreditar realmente que aquele gigantismo flutuante pudesse, assim, daquele jeito, “fazer da quilha portaló”! A noite que se seguiu foi tenebrosa, porque me ocorreu a possibilidade de uma tragédia na minha unidade flutuante de perfuração.
Na minha visão, tudo começou com um vacilo de operação, o ingresso de gás da formação para o poço (tecnicamente chamado de “Kick”), seguido de uma sequência de erros no fechamento do poço, abrindo os caminhos para uma poderosa bolha de gás se expandindo em alta velocidade em direção à superfície até ao surgimento daquele enorme vulcão de chamas, tonitruante, aterrador, destruidor!
Não “vivi” o abandono ou a visão do apocalipse a partir de uma baleeira esperando ser recolhido. Eu continuava a bordo, testemunhando a rápida perda de posição, o colapso completo da coluna de riser, incapaz de segurar por si só a grande plataforma sendo arrastada por vento e correntes marítimas.
“Vi” claramente o fim do incêncio e o início do pavoroso período em que o poço aberto e desgovernado, passou a descarregar nas águas todo o fluido que a Natura produziu e segurou nas suas entranhas por milênios sem conta. E agora? Gritava eu aflito! Como vamos nós “matar” esse poço?
Lembro-me de acordar do pesadelo com uma dolorosa vontade de urinar. Estranhamente, não senti aquele tipo de alívio gostoso por saber que não foi real, foi tudo em sonho. Com um arrepio, não pude evitar discorrer que o que a minha mente criou, poderia não ser fantasia de “filme-catástrofe”...
(Aos 11 da “Deepwater Horizon” e aos animais marinhos que morrem na tragédia que antevi)