OS PEIXES CAEM DO CÉU
Não sei se já escrevi sobre isso em crônica, se fiz me perdoem quem leu, se não fiz, ganha todo mundo que ler, pois estou prestes a contar esses casos da infância que esbarram no presente da gente, em lembranças que voltam com toda a força e até parece que a gente está lá, vivendo e sendo novamente criança. Certo estou que eu tinha uns cinco e pouco, quando andava com um amiguinho de nome Marquinhos, por algum lugar entre as quadras do Cruzeiro Novo, cidade satélite de Brasília; e tinha acabado de chover chuva bem vivida. Eis que Marquinho olha para o chão e encontra um peixinho dourado desses de aquário, ainda se debatendo e lutando por qualquer coisa de vida, e o moleque com um olhar de cientista, pega o peixinho na mão e depois olha para o céu ainda grávido de nuvens, e diz:
- Os peixinho realmente caem do céu, quando chove!
Diante daquele fato, e das palavras tão certezas do meu amiguinho; confesso a vocês que os professores do primário tiveram um trabalho danado para me convencer do contrário. Para mim, os peixes caiam do céu e estava acabado.
- Se você assim, menino, choveria baleia e tubarão também. - eles argumentavam, e mesmo sem ter Marquinhos do lado, eu respondia certeiro:
- Não sei nada sobre isso, mas o Marquinhos me falou que no Amazonas chove peixe-piranha!
Acabei convencido que seria um pânico geral se golfinho caisse do céu; mas eu, hoje com meus trinta e meio de idade e de convencimento que peixe, na verdade, sai do mar e do rio, tive que colocar essa certeza de lado, quando no último sábado, um peixe caiu bem ao meu lado, e para acabar com o surreal que você está pensando e contar o que de real ocorreu, explico que esse peixe tinha nome, e era uma peixa, e para salvar o português, explico mais ainda, uma pisciana amiga minha apareceu numa coincidência dessas que tem cara de acaso, mas como não havia a menor chance de eu encontrar por ali, esse peixe de nome Juliana, tenho certeza que Deus a jogou do céu, só para me provar que o Marquinho tinha razão.
Somos amigos de portas e janelas do sol. Caso antigo de irmão que nasce em outras famílias. Juliana é pessoa essa de sorriso fácil e coração do tamanho do mundo, com quem volta e hora, converso sobre as nadadas emocionais de ser um pisciano, ela que também nada, compreende e no espelho que ela reflete , percebo que não sou o único no mundo a ser assim tão pisciano.
Conversamos um mar inteiro de assuntos, fluindo desde os tópicos mais banais ao rio largo dos assuntos profundos, misturando a procura do Divino com os assuntos do cotidiano. E eu que via com umas perguntas difíceis de serem respondidas e já buscava essas respostas nas estrelas ou nas letras escondidas do jornal, ouvi da minha amiga pisciana justamente o que eu queria escutar:
- Você sabe, Frank, que como todo pisciano, eu chamo fuga de liberdade; mas você já parou para pensar que ser livre não é a mesma coisa que ficar se movendo por ai à esmo. Talvez, a liberdade maior esteja com as pessoas que conseguem ser livres e voar mesmo ficando no mesmo lugar.
Sim, choveram outros tantos diálogos como esse, e conversamos tanto que o dia deu lugar á noite e quando, finalmente, nos despedimos; de tudo o que falamos, uma coisa ficou evidente: peixes caem do céu a todo instante!