QUASE ATIRO O GPS CONTRA A PAREDE
Onze da noite, olhos pregados no monitor, minha filha no telefone:
_ Pai vem me buscar aqui no bar perto da Facul.
Faculdade nova, arredores desconhecidos, lá vou eu enfrentar a chuva e a noite escura
atrás da tal rua Décio, não sei que lá. Aventura inglória, entrando e saindo de ruas e avenidas com o pára-brisa encharcado. Parecia que o endereço se escondia cada vez mais. Minha filha aflita tentava fornecer maiores indicações. Depois de vinte minutos, rodando feito pião, passando três vezes no mesmo local, cheguei ao barzinho , sem antes bufar um bocado. Estava resolvida a questão.
Aquela situação foi a gota d água. Na manhã seguinte, com a idéia fixa, saí em busca de um aparelho navegador GPS. “ _ Não, não vou ficar mais à mercê de endereço desconhecido”.
Comprei logo um aparelho com sintonizador de TV digital, o que parece besteira mas é de uma utilidade fantástica quando se fica duas a três horas no trânsito, para voltar para casa.
Pois, bem, aprendi o manejo rudimentar do equipamento e parti, feliz e pimpão para os compromissos do dia. Logo de cara, fiquei encantado com a voz macia do aparelhinho, sempre indicando com precisão:
_ Vire a segunda rua à direita.
_ Você está acima do limite de velocidade.
E o melhor é que quando eu desviava de uma rua, a vozinha seguia indicando novos caminhos:
_ Aguarde, alterando a rota.
Estava tudo bem até chegar o fim de semana e eu resolver testar os conhecimentos do navegador para fazer um percurso mais longo. Fomos, toda a família, de São Paulo a Embu das Artes, cerca de 40 km e tive a infeliz idéia de abdicar do percurso habitual para seguir as indicações da voz suave, programando o aparelho para fazer o caminho mais curto.
Em determinado trecho, saí da rota conhecida para seguir exclusivamente a direção indicada pelo navegador. Pensei, “puxa, vou descobrir um caminho novo, mais rápido”
Ledo engano, a aventura malsucedida estava apenas começando.
Entrei em uma avenida cheia de curvas e saí em um ponto que não dava passagem. O GPS insistia que eu deveria seguir adiante, mas a avenida acabava em um morro. E o mapa estava atualizadíssimo. Bom, contorna daqui, vira dalí até sair em uma avenida movimentada e por duas quadras, fui orientado a descer uma rua estreita. Eu já estava “pegando bronca” daquela voz nem tão meiga assim. A coisa estava esquisita, percebi que estava entrando em uma favela e a rua ia ficando sem calçadas; mas o aparelhinho insistindo para eu seguir adiante. Negativo, depois de passar em uma viela que parecia sem saída, retornei, sob os olhares curiosos dos frequentadores de um barzinho prá lá de suspeito. Dois homens com aparência mal-encarada vieram em nossa direção. Não contei conversa, derrubei a lata de lixo sob o protesto de um gato preto e arranquei ladeira acima. Entrei na próxima rua á esquerda na tentativa de sair dalí mas caí em outra viela, pior do que a primeira. Apavorado, não tinha coragem de pedir informações. Claro, eu tinha um navegador, para que pagar este mico. O diacho é que o bichinho ficava ordenando para eu virar á direita. Ele queria que eu voltasse á primeira favela.
Vencido, desliguei o aparelho e pedi informações em um posto de gasolina, sem antes tomar o cuidado de cobrir o aparelho tranqueira com um pano. Retornei 10 quilômetros e reencontrei o caminho habitual. Após ser achincalhado por todos os passageiros do veículo, finalizamos o passeio.
Conclusão: A tecnologia é boa mas tem que se conhecer os bairros em que se vai circular para não ser surpreendido, não custa utilizar o velho método do “perguntômetro” . Confie sempre desconfiando, já dizia o ditado.