ENCONTROS E DESENCONTROS
20:10 e ela já estava nervosa, como pai na sala de espera da maternidade. O batom borrado no canto esquerdo bem demonstrava como deveriam estar inquietas as mãos ao retocar pela 3ª vez a maquiagem, depois que chegar àquele restaurante. É e ele estava atrasado mais uma vez. As duas horas que ela Havia pedido ao gerente da loja em que trabalhava iria lhe custar caro, talvez teria de trabalhar num sábado ou feriado em troca de uma quinta de prazer e olha que as duas horas nem tinham sido suficientes para dar aquela “produzida” desejada. Enquanto isso no trânsito apertado de uma das avenidas próximas ele escutava Rolling Stones no aparelho Sony de seu carro, o display marcava 98,3 e ela odiava aquela rádio e a banda também ela que estava muito mais para o pop romântico ou “só pra contrariar” tendia ao breganejo, mas ele sem se importar com o atraso seguia todo “satisfaction” para o encontro.
Não mais que meia hora depois, a figura esquálida, respingada pela chuva fina que caía entra no restaurante e ainda esbarra com razoável força em um garçom que portava mui elegantemente como se deve ser, uma bandeja em sua mão esquerda, cheia de taças de cristal. Não fosse tamanha destreza do tal garçom o prejuízo seria grande.
Depois de uma passadela de olhos no salão encontrou finalmente a mesa dela para onde se dirigiu calmamente e foi logo perguntando:
_ Tem muito tempo que você chegou?
E ela fazendo de tudo para não esmurrar a mesa:
_ Claro! Marcamos as oito e já são oito e quarenta, o que você acha?
E ele ainda zen:
_ Sabe o que é? É que fiquei conversando com o pessoal na repartição e me distrai
E ela quase voltando ao normal, numa meia conformidade:
_ Pois é você se distrai muito facilmente.
Estavam postos à mesa todos os ingredientes para começar a discussão de número 2458, na dura convivência daquele casal que já contavam sete invernos e haviam marcado aquele encontro justamente para tentar algum novo remendo.