Maria,o teu nome principia,na palma da minha mão!(cancioneiro popular brasileiro)
A devoção á Nossa Senhora foi introduzida ,no Brasil,pelas freiras vicentinas.Encontrando terreno fértil ,prosperou ,firmou-se e virou tradição.
O culto á figura da mãe de Jesus,nasceu e cresceu na Igreja,desenvolveu-se e só fez aumentar a devoção.Vieram os rosários,os escapulários e as noites de Maio,plenas de cantos seráficos e cheiros de rosas.
Ainda hoje,como foi outrora,mocinhas e mulheres,casadas e solteiras se ajoelham cheias de fé e entoam benditos ,desentoados ou não,antigamente em latim,gerando um anedotário tão vasto quanto a devoção;começando com o clássico”Regina parte a cara”e passando para o “matem cristo” do nosso interior alatinado.
A idéia da mãe de Jesus não é invenção da Igreja Católica; muitos povos e religiões do Velho Mundo tinham algum fato semelhante,oriundo,talvez,do culto da virgindade ou da importância da maternidade.O certo é que,nos afrescos mais antigos das catacumbas de Priscilla e Domitila,a Virgem já era encontrada e venerada.
A Anunciação é tão antiga que Santo Atanásio(sec.IV)se referia a ela nos seus sermões;bem como a Assunção,oriunda também do mesmo século.
A mãe de Jesus tinha direito á hiperdúlia,ou seja,ao culto mais elevado que uma criatura humana possa receber.
O doce nome de Maria era tão sacrossanto que,em certas regiões era proibido a qualquer mulher.Era puro,sublime,doce.terno,suave,alegre como o bimbalhar dos sinos de domingo.Diz a trovinha popular:
Nome bonito é Maria
Porque começa no mar
E acaba com alegria,
Com R,com I e com A.
O todopoderoso rei Afonso IV,de Castela,não quis tomar por esposa uma mulher que não se chamasse Maria;outros reis tiveram a mesma obsessão.
Mas,o Mês de Maria de hoje não é como o dos meus tempos de meninaMuita devoção,comes e bebes e muita festa,sem esquecer as danças;novenas nas Igrejas,cheirando a incenso ,o perfume das angélicas,enchendo o ar. Ricos e pobres festejavam ,cada família amiga tinha a sua “noite”,quando era responsável pela decoração e pelas comidas.Cada uma,queria superar a outra,haja licores finos nos vasos de cristais,haja sequilhos e arroz-doce,haja quindins e ambrosia.Flores,flores em profusão;os mais abastados traziam músicos.
As mocinhas casadoiras dançavam a polca com os pretendentes,lindas e louçãs ,nos seus vestidinhos de cassa bordada e laços de fitas azuis nas cinturinhas de pilão ,cabelos cacheados,enfeitados de miosótis.
O mês terminava com missa e procissão;as garotas disputavam um lugar para carregar o andor,pois,era dito e sabido que,quem carregasse a Virgem,no outro ano estaria casada.O problema era evitar que o incenso após a reza envolvesse a moça completamente;se isto acontecesse -oh,horror dos horrores!- ela ficaria no “barricão” para sempre.
Esse e outros textos sobre a Bahia e o Brasil de outrora estarão no meu novo livro "A BAHIA DE OUTRORA", A SER LANÇADO,SE dEUS E A EDITORA CONCORDAREM, NA BIENAL DE MINAS.