IN WONDERLAND

Fui assistir ao filme do Tim Burton, meu diretor de cinema preferido atualmente, Alice in Wonderland, baseado na Obra de Lewis Carol, no sábado. Traduzido aqui no Brasil como "Alice no País das Maravilhas", pode ser traduzido também como Alice dentro da terra maravilhosa ou Alice na terra maravilhosa, ou Alice na terra das maravilhas. Que dentro do contexto pode ser mesmo um país, ou dois, pois nele há dois reinos, nesse caso, então a melhor tradução seria "terra" mesmo em vez de país.

No domingo, às 12 h, fui visitar minha melhor amiga, hospedada na casa de amigos que moram numa rua, uma ladeira íngreme dando acesso a uma grande favela. Essa amiga voltaria para a cidade dela, localizada no interior de São Paulo, à noite. Fizeram um almoço em sua homenagem. Descobri que há uma Wonderland ali. O purgatório. Na calçada da rua principal, cuja ladeira é transversal, um táxi quase me atropelou. Atravessei e um homem alto, atlético, mulato, bem tratado, com roupa social e sandálias tipo havaianas, mas caras, por volta dos sessenta anos, óculos Rayban saltou do veículo e me chamou com uma voz alta e grave.

- Minha senhora, me faz um favor?

- Sim, qual é?

- O motorista do táxi quase não me deixou entrar, porque meus pés estão inchados e estou com esse saco aqui.

Olhei para o saco de mercado e não identifiquei o seu conteúdo, mas tive uma leve impressão de serem trouxinhas de maconha. Ele disse:

-Espera aqui! Ué, cadê ele?

Comecei a subir a ladeira, porque percebi que o homem estava doidão.

Uma criatura, mulher, bem magrinha e alta, branca, cabelos ruivos desgrenhados batendo nas costas, com dentes podres e largo sorriso, com uma saia lilás drapeada curtinha e um casaquinho anelado azul-rei ( cores fortes, como as do filme e seus personagens, estava entre chapeleiro maluco, colelho, gato e Alice). Toda suja e descalça; o cumprimentou, apertando sua mão e falando seu nome.Veio em minha direção, mas infelizmente tive que fingir estar distraída. Parecia um ser de outra esfera. No bar da esquina, ao olhar para trás, estourava uma discussão com uma mulher meio atarracada de cabelos alisados. Um táxi parou, não sei se o mesmo táxi do homem, e ela saiu discutindo indo em sua direção, baixando o tom de voz.

No meio da calçada-escadaria, já pelo alto um sujeito branco e magro, de uns 50 anos, cheirava cocaína, com uma nota de um real como canudo e o pó em cima do American Express Card, fazendo muito ruído ao aspirá-la, sem se importar com os transeuntes. Logo atrás dele havia uma casa, não olhei direito e bati na porta errada, era a casa de cima. Finalmente cheguei ao meu destino. A ladeira dá a falsa impressão de paraíso ( Wonderland ): casas lindas, céu azul intenso, árvores, passarinhos. Todos na sua "paz". Cheguei à conclusão de que também o paraíso ( Wonderland ) é infinito enquanto dura. Até a guerra.

Fiquei incomensuravelmente feliz em rever minha amiga. E ficar na companhia de anfitriões tão generosos.

Cada um tem a Wonderland que merece.

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Ouçam meus áudios ( minhas músicas ). Beijos.

LYGIA VICTORIA
Enviado por LYGIA VICTORIA em 03/05/2010
Reeditado em 28/03/2017
Código do texto: T2235697
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