RECUERDOS DE BRASÍLIA

Já na sala de embarque, eu e mais três ou quatro professores começamos a ter dificuldade em sossegar aquela criançada de seus dez anos. Assanhadíssimos por causa da viagem não queriam perder nada. Ali se encontravam umas cantoras country que faziam sucesso em uma novela do momento e eles queriam autógrafos, ou queriam ir ao toalete, ou estavam com sede... Durante o voo foi mais fácil, todos presos com cintos de segurança.

Em Brasília dois ônibus nos esperavam. Os homens, em menor número, foram para um hotel e nós, mulheres, para o Quartel da Polícia Militar Feminina. Depois de deixar a bagagem no dormitório, ir ao banheiro, etc, etc, almoçamos no refeitório das moças, servidas por gentis soldadinhas. Em seguida, fomos passear, conhecer a cidade.

À noite, pra lá de exausta, eu pensei que fosse dormir feito anjo. Antes que todos se acomodassem, porém, as meninas fizeram a maior folia, correndo em gritaria para escolher seus lugares. Quando tudo parecia calmo, apagamos as luzes.

Quando eu já me via embalada em suave sono, ouvi som de cochichos. Depois, uns risinhos abafados que aos poucos se tornaram mais estridentes. Levantei da cama e fui sorrateira na penumbra até encontrá-las. O grupinho, aboletado na parte superior de um beliche, levou o maior susto! Meu vulto de camisetão branco, aparecido ali de repente, pareceu-lhes assombração! Dei umas broncas e a ordem se restabeleceu.

Às cinco e meia da manhã toques de corneta nos despertaram. Pusemos todo mundo pra correr, da cama pro banheiro, do banheiro pro quarto. Maior auê! Tínhamos que assistir à solenidade das seis em ponto, fazia parte do pacote da nossa hospedagem. Descemos correndo.

Enquanto as policiais rigorosamente uniformizadas batiam os pés, marchavam um pouquinho, faziam continência e davam umas voltinhas para a direita e para a esquerda, ao som da corneta, nossas meninas não paravam de bocejar. Algumas não se continham e riam sem parar, nem ligavam para as caretas que nós, as profs, lhes fazíamos...

Foi naquele momento, então, que me senti verdadeiramente, em carne e osso, numa Loucademia de Polícia!