Resgatando nossas raízes, enfrentando a mediocridade
Pensei muito antes de escrever uma crônica sobre esse fato que aconteceu comigo. Tanto é que já se passou um ano. Não quero começar a filosofar sobre a terrível condição que os artistas brasileiros sofrem fora do eixo Rio-São Paulo (até porque é assunto para grandes discussões). Acontece que em 2008 publiquei meu primeiro livro, intitulado Quando o Amor Viveu. A primeira livraria que procurei foi a Bamboletras, devido sua tradição de vitórias no prêmio Açorianos de Literatura. No lançamento foi feito com um pocket show ao lado do grande violonista Osmar Carvalho, no shopping Olaria. A dona da empresa, conhecida por Lu Vilella, me recebeu e logo quis falar sobre comissão nos livros que não havíamos negociado. Justo, porém o acerto de preços no horário do show me causou grande desconforto, além de querer que eu autografasse somente dentro da livraria, o que impediria o contato com o público. Optei por fazer o show e deixar para lá a consignação, sendo que trataríamos disso depois. Não gosto de falar sobre dinheiro, ainda mais no horário de minhas apresentações.
Para minha surpresa, Lu Vilella ficou tão indignada pela impossibilidade de exploração e lucro em cima de meu trabalho, que repudiou o livro do estabelecimento e não quis nem ceder o marca-página com o logotipo da Bamboletras para os livros vendidos ao público interessado do shopping. Tempo passou, fiz a turnê do livro em São Paulo e Rio de Janeiro, concorri no Festival da Canção em Minas Gerais e voltei para Porto Alegre, depois de participar também do prêmio Açorianos de Literatura (mesmo não sendo o vencedor). Pensei que a senhora, dona da Bamboletras, poderia agora esquecer o que passou em 2008, para em 2009 simplesmente consignar meu material lá.
O singelo motivo da nova tentativa foi a vontade de que meu público tenha um acesso maior ao meu trabalho. O artista não PODE pedir esmolas, afinal, já passamos por tanta humiliação nos palcos da vida! Já tinha meu trabalho na Livraria Cultura com pronta-entrega em todo o Brasil, regularmente em livrarias de Porto Alegre e em outras boas em São Paulo e Rio de Janeiro. Interessante seria ter também na Bamboletras, livraria gaúcha, que apesar de querer cobrar mais de R$50,00 num livro de 56 páginas (quase um real por página), ainda assim representava minha cidade. Enfim, após um ano voltei e a mesma senhora me respondeu ironicamente que eu jamais iria ter minha obra naquela livraria.
Decidi então avisar meus colegas e leitores nessa crônica, com a finalidade de mostrar a realidade do artista brasileiro e alertar os gansos. Igual a esta história, tenho no mínimo mais cem para contar sobre o mesmo tipo de descaso e mediocridade. Depois de tudo, passei num local muito bonito (tem até um piano lá), chamado Sapere Aude!. É uma livraria localizada na cidade baixa, número 33 da Lopo Gonçalves, em Porto Alegre. Lá podemos ver muitos livros brasileiros e estrangeiros, de escritores conhecidos e escritores em batalha.
Nós, artistas, não devemos apresentar nossos trabalhos em casas que não valorizam nossa história. Por isso, sem mais citar nomes, não dou as famosas canjas em locais que não respeitam nossa arte. Como já dizia Tom Jobim: "o músico (ou artista) não deve morrer de fome só porque pensam que não podemos cobrar pelo nosso TRABALHO". Essa conversa de que a arte não pode ser considerada um trabalho é mito, é história ignorante que algum desinformado contou para algúem séculos atrás (acredito ainda que por inveja). Sem mais, deixo esse presente aqui, para quem gostar ou não - simplesmente viabilizando algum tipo de consciência coletiva.
(a disposição incorreta dos parágrafos é de formatação do site)