O RETORNO DO FUTEBOL ARTE...
Essa estória do "ganhou, mas perdeu" que alguns torcedores não santistas andam pronunciando na segunda-feira, quando chegamos ao nosso trabalho, são apenas subterfúgios para retirar o brilho de uma campanha impecável do glorioso campeão paulista deste ano. Aliás, o time do Santos de hoje não é apenas um escrete vitorioso e que traz na bagagem um estoque infindável de gols. É também um time de referência para os jovens como um todo, de cujo exemplo se extrai a ousadia, a forma ofensiva de se jogar futebol demonstrando vitalidade, jovialidade e um misto de responsabilidade com irreverência, tanto que os bastidores da equipe tem sido utilizado pela mídia para mostrar ao Brasil que o futebol pode sair daquele marasmo carrancudo que os técnicos implantam como forma de criar um clima de respeito, impondo a tática do "não tomar gol" ou jogar com o regulamento "debaixo do braço".
Por conta dessa ótica que faz retornar o futebol que emanava das várzeas, quando todos praticavam esse esporte por opção e para se sentir feliz, a equipe santista tem trazido para o brasileiro um novo ingrediente no mundo do futebol que até este momento tinha um futuro obscuro regrado (em muitos casos) apenas pela necessidade comercial de se criar atalhos para que o escrete consiga alcançar resultados, não interessando se joga feio ou joga bonito. Aliás, esse tipo de comportamento que mercantiliza o futebol nunca foi aceito por nenhum brasileiro. O próprio torcedor vai ao estádio para ver seu time ganhar e pode até sair vencedor e satisfeito com o resultado, mas sempre reservará no fundo de seu coração a sensação de que poderia ser melhor, já que o resultado não veio com uma jogada trabalhada, ou através de um lance isolado do craque do time. A vitória veio por um lance de bola parada, mas não porque o meia era habilidoso e fez uma cobrança magistral, já que o gol foi feito de cabeça e por um zagueiro.
Entretanto, se formos olhar nossa história veremos que há muito tempo não vemos um gol com uma jogada do tipo daquela que o Ganso (de calcanhar e de costas para a zaga adversária) deu um passe magistral para o Neymar que, com a maior simplicidade (de pé esquerdo), concluiu para o gol com absoluta competência. Nós mesmos (torcedores do Santos), no passado tínhamos um centro avante (não vou citar o nome), que até fazia gols, mas depois de perder inúmeros outros. Essa objetividade e os dribles desconcertantes fazem retornar em nós a época em que esse fundamento não era proibido pelos treinadores. Aliás, os próprios zagueiros trogloditas que temos hoje, quando são driblados pelos atacantes, acabam (em muitos casos) acusando que aquele tipo de jogada ofende sua honra. Pensando dessa forma e sem outro recurso o defensor parte para a agressão ou aponta o dedo em riste acusando o atacante de que sua atitude depõe contra os colegas de profissão. Quando vejo isso tipo de atitude fico profundamente indignado, pois o futebol está perdendo sua arte, graças a conduta desse jaez.
Assim, em face a tudo que vem acontecendo com os "meninos da Vila", cuja equipe está despertando os jovens para essa nova realidade, moldada na alegria e na forma mais objetiva de se chegar no ataque, que são os dribles e as jogadas criativas, é que todos nós, independente do time que torcemos, temos de aproveitar o momento para sairmos do abismo que se aproximava do nosso futebol, pois o nosso esporte preferido deve renovar os ídolos, mas dentro do mesmo perfil que sempre nos diferenciou da outras escolas mundiais, que é exatamente a criatividade e a forma alegre se jogar futebol, por isso é que tivemos: Pelé, Zico, Romário, Ronaldo, Júnior, Gérson, Tostão, Falcão e muitos outros que deixaram saudade.
Cumpre observar, finalmente, que o Santo André também foi exemplo nessa cruzada rumo à melhoria do nosso futebol, pois mesmo sem craques de renome, apresentou um futebol dinâmico, pra frente, sem os melindres de esquemas 'retranqueiros' e por isso enfrentou o Santos em condições de igualdade, pois a necessidade de fazer gols e as características de jogar do time é que formou o grande mérito da equipe para dificultar sobremaneira o título santista.