AO PÉ DO BERÇO - MEDITAÇÕES DE MÃE
A paz da tarde envolve o quartinho verde-água. Ela entra de mansinho e olha. O bebê dorme tranquilo no berço. Afasta os leves cortinados. Observa o rostinho rechonchudo e rosado. Um pequeno anjo lindo, sua filhinha. Suspira de felicidade. Se quiser, pode sentir-lhe o calor, o cheirinho gostoso que têm os bebês. Era um sonho aquela filha. Tinham esperado muito por ela. O pai, na volta do trabalho, também se derrete todo bobo pela coisinha fofa que, sem jeito, ainda não aprendeu a segurar nos braços.
A tarde cúmplice. Ela tem por hábito, a essa hora, velar o sono da pequena. Novelinho de lã, frágil e gostoso de pegar. Perninhas soltas, pezinhos largados nos sapatinhos cor-de-rosa. Sorri o coração materno. Corre levemente a pontinha dos dedos sobre a barriguinha que sobe e desce ao movimento ritmado da respiração. O risinho torto no canto da boca. Uma pequena careta. Os bebês sorriem dormindo sonhando com anjos... Será que ela sonhava com anjos naquele momento? Uma súbita ternura invade-lhe a alma. E em pensamento diz:
“Dorme, minha filha, enquanto pode. O seu berço é seguro e pode ser que você não encontre muitos lugares assim. Você não conhece os males do mundo... O crime impera, a violência é tanta, e é quase impossível se fugir disso. Agora, você tem ao seu pai e a sua mãe que são fortes e trabalham para te cuidar. Velamos a todo instante pelo seu bem- estar. Se tiver febre será medicada, se tiver fome será alimentada, se tiver frio será aquecida”.
“Dorme, minha filha, enquanto pode. Aproveite a dádiva de ter quem te ama, lhe quer bem e tudo faz para que sua vidinha seja linda e calma. Você não precisa responder por nada, porque estamos aqui fazendo isso... Mas o tempo voa, passa tão ligeiro e você tem de crescer. Ainda que não queira, será uma menina, uma mocinha, uma jovem, uma mulher. Então tudo será diferente. Terá que seguir sozinha e já não poderá contar com os braços fortes do papai e os cuidados da mamãe”.
“Dorme, pois, minha filha, serenamente, enquanto pode. O tempo é breve... E mais breve do que pensa já não poderá mais dormir tranquila assim, porque diante de você estará também o seu filho dormindo. E, certamente, seus pensamentos serão os mesmos que tenho agora...”