PRIMOS
Recebi um e-mail da Gabriela minha sobrinha num endereço que mantemos para o grupo familiar trocar mimos virtuais. Lavações de roupa suja também, de vez em quando. Criamos o grupo para fazer como a gente faz aqui, por exemplo, no Recanto. Aproximar as pessoas. A família é muito grande e dispersada. Então esse é um mecanismo que nos mantém atualizados das coisas importantes do cotidiano de cada um e diminui bastante as ligações telefônicas. Os grandes e festivos encontros continuam a acontecer lá na sede, em Itabira, na casa principal da família junto ao patriarca, ou na casa de uma irmã, que por sinal é a mãe da Gabriela. As minhas sobrinhas, quinze meninas ao todo, tomaram a dianteira em relação aos meninos que também não são poucos – onze - e resolveram fazer um encontro de primas, marcado já para o próximo mês. Não sabemos ainda se se trata de um clube de luluzinhas. Deve ser um congresso para oficializar o inevitável domínio feminino no clã? Elas mantêm um doce mistério sobre a pauta da reunião. Apenas pediram que fossem servidas de acordo com o cardápio que elaboraram e mais não se sabe. De qualquer maneira, o que eu acho mesmo é que a iniciativa, seja que finalidade tiver, uma vez que para briga eu tenho certeza que não será, dá, de certa forma uma continuidade ao desejo da matriarca que disse antes de nos deixar ser um dos seus maiores sonhos nunca ter esse laço familiar desfeito. Os meninos vão dar o troco, tenho certeza e estimulo. Claro que eles também vão querer manter acesa a chama! E depois, quem sabe não se realize um tremendo encontrão de todos? Eu vou estimular também, meus irmãos e irmãs vão fazer o mesmo, não há dúvida.
Sinto uma alegria desmedida com essa ação e me pus a lembrar: eu tenho muitos primos, mas a convivência com eles é quase nula. Na infância, havia uns primos que moravam numa fazenda e a gente passava férias lá. Brincávamos juntos, aprendíamos com eles umas coisas do campo, ensinávamos umas da cidade e só. Muitos foram agregados em nossa casa. Vinham para estudar, vinham para refrescar os pais que tinham dificuldades de lidar com adolescências rebeldes, mas ficou só nisso. Na cidade também havia muitos. Paradoxalmente, no entanto, tínhamos menos convívio com eles do que com os da roça. Nunca tivemos afinidades a ponto de tornar a relação de parentesco em amizades ou de dar continuidade àquelas cumplicidades que há entre muitos primos e primas que a gente vê por aí. Uma ou outra exceção ainda permanece, mas nada que se compare ao que vejo hoje em minha família. Quase trinta meninos e meninas cuidando para manter uma tradição, já que os ascendentes estão envelhecendo. Estão tendo uma bonita e harmônica compreensão do ciclo da vida. E o mais caro e fundamental: a manutenção da estrutura familiar. Eu torço muito para que seja levada até as últimas gerações.