O DOG ALEMÃO NA PRAIA
Tratava-se de um imenso e desajeitado dog alemão, decerto bem maior do que normalmente eles já são. A princípio, olhando da varanda do restaurante onde eu estava, tive a equivocada impressão de que o bicho, em pé, era uma mulher porque um homem quase da altura dele quando firmado nas patas traseiras o abraçava carinhosamente dentro da serena água da Praia de Pipa, uma das inúmeras praias próximas de Natal. Além do mais, o dog alemão sapecava-lhe cada beijo de língua ardente na face que nem tive tempo de pensar muito sobre aqueles carinhos de parte a parte ao desviar o olhar para além beira-mar, onde pequenos barcos balançavam suavemente ao sabor das fracas ondas e os raios solares dançavam sobre a água iluminada. Quando voltei a deitar os olhos no que pensei fosse um casal apaixonado dando vazão ao seu amor enquanto tomava banho, uma surpresa me agradava: o bicho já voltara às quatro patas e a ponta de sua cauda ia de um lado para outro à espera de um gesto de seu dono.
Súbito, feito criança espevitada e brincalhona, o dog alemão saiu a correr na direção da areia da praia espadanando água para todos os lados e latindo folgazão. Parou e voltou-se espalhando entusiasmo. O sol do meio dia incidia sobre os banhistas com a intensidade de uma aguçada adaga ferindo a pele e encadeando os olhos. O animal continuava chamando a atenção do sujeito que o abraçava com tanto carinho há pouco e não se preocupava com as possibilidades malignas solares do horário, o mesmo acontecendo ao sujeito com quem ele tomava banho. Foi nesse instante que acionei minha máquina fotográfica e coloquei a ambos no seu foco, clicando com a intenção primeira de gravar a paisagem exibida pelo mar sob o sol, os barcos deslizando suavemente, as pessoas mergulhando sob as ondas e alguns massaricos bicando a areia à procura do almoço. A lá estavam os dois em destaque, o dog alemão majestoso abanando o rabo e o cara na água, somente a cabeça fora, rindo divertido.
Beberiquei água de coco gelada e deixei-me levar pelos movimentos infantis do imenso cachorro, agora indo e vindo da areia da praia ao local onde se encontrava seu dono sem parar, latindo no seu açodamento incontido, fazendo a festa num local destinado exclusivamente a humanos. E como sói acontecer sem que ninguém possa evitar, de repente o animal acocorou-se na praia, levantou a cauda na maior tranquilidade, fez uma força descomunal à medida que procurava a melhor posição e o ângulo mais óbvio e descarregou ali mesmo sua necessidade fisiológica número dois. Ao terminar, lançou-se novamente à água na direção de quem o paparicava deixando para trás os dejetos, que uma onda mais ousada se encarregou de levar consigo no movimento de volta para o interior do mar. Ainda avistei o cara com quem o dog alemão brincava metendo a mão na água a fim de jogar para longe o " presente " deixado por seu cão que por muito pouco não o atingiu no rosto.