GOLPE DO FALSO SEQUESTRO

Sempre que acontece algo sério com alguém e essa pessoa diz que “nunca pensou que lhes aconteceria tal fato” é mesmo “lugar comum”. Normalmente, ouvimos isso nas reportagens de TV, quando algo inesperado e indesejado ocorre.

Lembrei-me disso, quando assisti, em diversos canais, durante o noticiário da telinha, à entrevista do atual Vice-Presidente da República, José de Alencar, onde o mesmo descrevia a sua surpresa e indignação quando foi vítima de um telefonema de falso sequestro.

Eu também pensava, até dois anos atrás, que isso não aconteceria comigo, que tinha malícia suficiente para reconhecer que era um golpe e que não sou tão ingênua assim. Mas aconteceu.

Acompanhava minha irmã a uma revisão de cirurgia e, enquanto aguardávamos na antessala do consultório, tocou meu celular. Era uma chamada a cobrar. Como meu marido e meu filho não estavam presentes, imaginei que fosse um deles. Logo que atendi, me surpreendi com uma voz indefinida, não deu pra perceber se era criança ou adolescente, se homem ou mulher, chorando e dizendo “mãe, eles vão me matar”. Em seguida, alguém pegou o telefone, falou com voz grave, ameaçadora, dizendo que meu filho estava com ele e que não teria piedade. Eu, ingenuamente perguntava quem estava falando, onde meu filho estava, momento em que a outra voz interferia chorando e dizendo que estava com medo.

Passaram coisas demais por minha cabeça e nada fazia sentido. Por sorte, não falei o nome dele, só pedia para que ele se acalmasse que eu daria um jeito. Como meu filho não estivesse presente, fiquei em dúvida se era real, e também não tinha como deixar o telefone de lado e ligar para casa, confirmando se estava lá, vez que eu me encontrava fora de minha cidade. Foram momentos de grande agonia e eu, enquanto ouvia o Vice-Presidente contar o que havia passado, compreendi o que sentiu e estava ele sentindo, ao reviver esse recente fato.

A providência divina mais uma vez me socorreu, pois, sem ter o que fazer, minha irmã que estava sentada na poltrona ao lado, que nunca passara, nem imaginara algo assim, disse em voz alta : “deve ser brincadeira do Émerson...”, ainda não entendendo a gravidade do que eu ouvia.

No mesmo instante, o meliante aproveitou a dica e disse que não era nenhuma brincadeira e que o Émerson iria morrer sim. Só que o Émerson é meu marido, o filho é Adriano. Então, minha ficha caiu, pois, acredito que, a primeira coisa que eles fazem quando sequestram alguém é perguntar o seu nome, até para usar numa oportuna ligação de pedido de resgate.

Comecei a falar com ele que esse não era o nome do meu filho e que aquela ligação era falsa e que tomaria providências contra ele e outras baboseiras, até que minha irmã me advertiu que desligasse o telefone, pois estava pagando a chamada de quem ligou só para me atormentar e me extorquir. Concordei com ela e desliguei muito aborrecida por quase ter caído naquele golpe, logo eu que me julgo esperta!

Realmente é uma experiência desagradável, pelo menos, no meu caso e do vice-presidente, o desfecho foi favorável, mas, imagino como deve ser terrível passar por isso, quando o caso é real. Como o ser humano se sente impotente na mão de estranhos que nada têm a perder! E, como ficam aqueles que são contatados e ameaçados seguidamente. É o calvário.

Quando desliguei o aparelho, fui até uma delegacia em frente à clínica, talvez até para dar uma queixa, tentar quaisquer outros esclarecimentos, mas o policial disse que de nada adiantava, que essas ligações são de presídios, são comuns e não há o que fazer. Saí frustrada por não ter como agir.

Graças a Deus, pude falar com meus familiares que se encontravam em casa e estavam bem, mas posso dizer que essas coisas não acontecem apenas com os outros, pois aconteceu também comigo, infelizmente.