O Valor de Uma Chave

Quando saio de casa prendo as chaves de entrada em meu pulso, com um cordão. Há muito tempo faço isso, mas esta semana recebi a pergunta “fatal” que já esperava: “Você tem trauma em relação à perda de chave”?

Sim, eu tenho. E como tenho!

Perdemos nosso molho de chaves num tempo em que chegávamos do serviço 23 horas ou mais. Parados no portão, os cachorros desesperados após longa espera de final de dia, e o muro impossível de ser transposto. Apesar do avançado da hora, batemos no vizinho para pegar uma escada para pularmos o muro e acalmarmos os animais que já estavam histéricos, num horário bastante inconveniente.

Sobe de um lado. Uma vez em cima, puxa a escada para o outro lado para descer. Ótimo! Só para acalmar os bichos. Agora volta para a escada, sobe no muro e puxa a escada, coloca do lado de fora para sair e ir atrás de um chaveiro.

Minha cidade é muito boa. Tem chaveiro 24 horas. Se alguém pensa que chaveiro não dorme está muito enganado. Fazer um profissional cansado levantar da cama, que há essa hora já passava da meia-noite, e atender um chamado para uma simples chave talvez não seja exatamente difícil, mas na hora que você fala para ele que irá abrir quatro fechaduras de uma mesma porta, sendo que duas delas são tetra Isso sem falar das três do portão porque sempre poderemos usar a escada do vizinho para pulá-lo, não é fácil, não.

Entramos em casa cerca de três horas da manhã, em tempo de fazer café para voltarmos a trabalhar no dia seguinte, até com folga, pois ainda era um pouco cedo.

Hoje saio com minha chave no pulso, batendo nos balcões, ameaçando prateleiras bem arrumadas, batendo em coisas que não devia, atrapalhando para tomar um lanche, fazendo barulho por onde estendo o braço, mas balanço minhas chaves muito feliz. Às vezes ainda olho para elas para certificar-me que realmente estão lá.

Ana Toledo
Enviado por Ana Toledo em 02/05/2010
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