ARISTOCRATA II ou SOBRE O PODER DA LEITURA - ( para o leitor A. Silva)
" Sou uma aristocrata desde sempre e há eternidades falida ... de mim mesma."
Quando escrevi esta frase, tinha uma determinada intenção que comentários de dois leitores, em particular o comentário de A. Silva, levaram-me a compreender não ter se transformado em ato aquela minha referida intenção, isto é, não ter ela, intenção, logrado dizer o pretendia dizer,pelo contrário: comunicou coisa inteiramente diversa, à minha revelia, do que pretendia comunicar.
O comentário do leitor A. Silva: " E isso não é bom, Zuleika?" Para mim, o que está implícito nesta sua escrita? O seguinte: " Não foi melhor falir como aristocrata? Não será melhor reconstruir-se como outra espécie de ser, uma democrata, por exemplo?" Urge que eu dê toda razão a este leitor. Afinal, se sou ( assim eu o disse, na frase) alguém falido desde sempre de uma aristocracia - só lendo o comentário passei a compreender as implicações no uso do termo "aristocrata" e o ato falho, inconsciente, deste uso - perder tal aristocrata de mim mesma, ao invés de grande perda pode tornar-se, como afirmou o leitor E. Silva, o maior dos ganhos. Em suma: o seu comentário extremamente lúcido foi-me revelação e desvelamento: só deixando desmoronar de vez a aristocrata de mim posso abrir o espaço necessário para me deixar brotar uma outra espécie de ser. Esta crônica, enfim, nada mais é senão um breve agradecimento a escrita de um leitor atento e lúcido e uma louvação ao poder inscrito no ato da leitura, poder que pertence a todos nós.