“SENHOR MUNDO”
Lendo, esta semana, uma crônica de “Lenapena”, no Recanto das Letras, eu me vi apaixonado pelo texto. Não por ser um texto inédito. Não. Apaixonei-me pelo que ele trazia em seu conteúdo narrativo. Nele, a autora discorre sobre a saída dos filhos, de casa, para morarem sozinhos – sejam quais forem os motivos –, e como isso traz enormes preocupações para os pais, em especial, para as mães.
Fica claro, na narrativa, que metade dos pais que ela conhece, estão vivendo essa experiência de verem seus filhos serem adotados “pelo mundo”. Como no ditado que diz: "criamos nossos filhos para o mundo", eles se vão, segundo ela, em busca de seus sonhos, mas deixam para trás corações de mães dilacerados pela angústia de assistirem seus rebentos cortarem os cordões umbilicais ainda tão jovens, apesar de que, no coração de mãe, os filhos são e sempre permanecerão os seus bebezinhos.
Em determinado trecho de sua crônica, ela desabafa e desafia o “Senhor Mundo” mostrando que, apesar de ele ser o dono do mundo, ele não tem propriedade para terminar de criar o seu filho: “- olha aqui, o ‘Senhor’ não gestou, nem pariu, nunca trocou fraldas, jamais amamentou, e nunca enxugou lágrimas, muito menos passou remédio em machucado e nem ficou a assoprar, para parar de arder”.
E ela desfia o seu rosário de lamentações, sempre desafiando o todo poderoso mundo. No final, reconhecendo que os filhos precisam dessa independência, agradece a tecnologia atual por deixá-la ver, todos os dias, o seu bebezinho através da webcam, em sites de mensagens instantâneas.
Fiquei me lembrando dos meus filhos. Dos dois. Um foi morar com o “Senhor Mundo” há cerca de seis anos. Na época, a dor de ter que levá-la foi contada numa crônica e, só quem a leu, sabe a dor que eu senti em ter que voltar de onde a deixei, sem a companhia daquele olhar que, na ida, se perdia no horizonte de seus medos e se assustava com o desconhecido que iria ser-lhe apresentado dali a pouco. O banco de trás, vazio, foi testemunha das vezes em que o olhei, pelo retrovisor para, pelo menos, tentar visualizar, em minha lembrança recente, a figura da garota recém-saída da adolescência que se aventurou em seus sonhos de menina.
Hoje, já crescida, tornou-se amiga do “Senhor Mundo”. Convive amistosamente entre o dono do mundo e a sua antiga moradia. Em visitas. Fez-se, portanto, capaz de suportar a ausência dos mimos dos que a criaram para o mundo e tornou-se capaz de compreender que a sua parte na história das preocupações ainda virá a seguir.
Mas, como o “Senhor Mundo” não escolhe apenas um de cada família, o meu outro filho também foi fazer-lhe companhia, no mesmo local. Foi este ano. Ainda mais jovem que a irmã – quando foi –, ele está aguentando bem a carência familiar e está se tornando calejado muito rapidamente. O “Senhor Mundo” exige isso, pois se alguém quer se tornar seu amigo, deve, primeiro, aprender as suas regras de convivência que, entre outras, são: organização, compromisso, competência, determinação, objetivos, capacidade, discernimento, caráter e obediência aos seus valores.
Ah! Lembrei-me de uma coisa: na crônica, que tem por título “Mãe é Mãe, não tem jeito...” ela, a Lenapena, claro, fala pela ótica da mãe. Aqui, eu ainda não citei como a mãe dos meus filhos ficou diante da partida de suas crias. Eu digo: despedaçada, pois uma parte de si foi-lhe arrancada bruscamente. Quando estava se recuperando da primeira partida, veio a segunda. Abalou-a muito. Basta dizer que ela, quando nós fomos deixar, para o “Senhor Mundo”, o segundo de seus filhos, na volta, durante os quatrocentos e setenta e dois quilômetros percorridos, em nenhum momento, ela parou de chorar. Ainda chora. E assim como na crônica que li, eu agradeço, pela minha esposa, a tecnologia à nossa disposição. Isso, de certa forma, alivia a ausência deles.
E, por fim – e ainda recordando o texto que li –, o ruim da partida dos filhos, para viverem suas vidas fora das nossas vidas, é que – plagiando o que uma das amigas de Lenapena disse na crônica – “o ninho fica vazio”. Sim. A casa fica enorme sem a presença deles. E os seus “ninhos particulares” (quartos) são motivos de aperto no coração e de pequenos momentos de melancolia. Resta-nos a visita – permitida pelo “Senhor Mundo” – daqueles que nós amamos. Este final de semana foi festa aqui. Os dois se fizeram presentes. Porém, tudo tem seu outro lado: domingo à noite, na partida, as lágrimas de despedidas tomaram o lugar das lágrimas de boas-vindas da sexta feira passada...
Obs. Poliana e Pedro: hoje morando "no mundo" (em João Pessoa/PB). Aqui, ao lado da mãe e do pai.
Lendo, esta semana, uma crônica de “Lenapena”, no Recanto das Letras, eu me vi apaixonado pelo texto. Não por ser um texto inédito. Não. Apaixonei-me pelo que ele trazia em seu conteúdo narrativo. Nele, a autora discorre sobre a saída dos filhos, de casa, para morarem sozinhos – sejam quais forem os motivos –, e como isso traz enormes preocupações para os pais, em especial, para as mães.
Fica claro, na narrativa, que metade dos pais que ela conhece, estão vivendo essa experiência de verem seus filhos serem adotados “pelo mundo”. Como no ditado que diz: "criamos nossos filhos para o mundo", eles se vão, segundo ela, em busca de seus sonhos, mas deixam para trás corações de mães dilacerados pela angústia de assistirem seus rebentos cortarem os cordões umbilicais ainda tão jovens, apesar de que, no coração de mãe, os filhos são e sempre permanecerão os seus bebezinhos.
Em determinado trecho de sua crônica, ela desabafa e desafia o “Senhor Mundo” mostrando que, apesar de ele ser o dono do mundo, ele não tem propriedade para terminar de criar o seu filho: “- olha aqui, o ‘Senhor’ não gestou, nem pariu, nunca trocou fraldas, jamais amamentou, e nunca enxugou lágrimas, muito menos passou remédio em machucado e nem ficou a assoprar, para parar de arder”.
E ela desfia o seu rosário de lamentações, sempre desafiando o todo poderoso mundo. No final, reconhecendo que os filhos precisam dessa independência, agradece a tecnologia atual por deixá-la ver, todos os dias, o seu bebezinho através da webcam, em sites de mensagens instantâneas.
Fiquei me lembrando dos meus filhos. Dos dois. Um foi morar com o “Senhor Mundo” há cerca de seis anos. Na época, a dor de ter que levá-la foi contada numa crônica e, só quem a leu, sabe a dor que eu senti em ter que voltar de onde a deixei, sem a companhia daquele olhar que, na ida, se perdia no horizonte de seus medos e se assustava com o desconhecido que iria ser-lhe apresentado dali a pouco. O banco de trás, vazio, foi testemunha das vezes em que o olhei, pelo retrovisor para, pelo menos, tentar visualizar, em minha lembrança recente, a figura da garota recém-saída da adolescência que se aventurou em seus sonhos de menina.
Hoje, já crescida, tornou-se amiga do “Senhor Mundo”. Convive amistosamente entre o dono do mundo e a sua antiga moradia. Em visitas. Fez-se, portanto, capaz de suportar a ausência dos mimos dos que a criaram para o mundo e tornou-se capaz de compreender que a sua parte na história das preocupações ainda virá a seguir.
Mas, como o “Senhor Mundo” não escolhe apenas um de cada família, o meu outro filho também foi fazer-lhe companhia, no mesmo local. Foi este ano. Ainda mais jovem que a irmã – quando foi –, ele está aguentando bem a carência familiar e está se tornando calejado muito rapidamente. O “Senhor Mundo” exige isso, pois se alguém quer se tornar seu amigo, deve, primeiro, aprender as suas regras de convivência que, entre outras, são: organização, compromisso, competência, determinação, objetivos, capacidade, discernimento, caráter e obediência aos seus valores.
Ah! Lembrei-me de uma coisa: na crônica, que tem por título “Mãe é Mãe, não tem jeito...” ela, a Lenapena, claro, fala pela ótica da mãe. Aqui, eu ainda não citei como a mãe dos meus filhos ficou diante da partida de suas crias. Eu digo: despedaçada, pois uma parte de si foi-lhe arrancada bruscamente. Quando estava se recuperando da primeira partida, veio a segunda. Abalou-a muito. Basta dizer que ela, quando nós fomos deixar, para o “Senhor Mundo”, o segundo de seus filhos, na volta, durante os quatrocentos e setenta e dois quilômetros percorridos, em nenhum momento, ela parou de chorar. Ainda chora. E assim como na crônica que li, eu agradeço, pela minha esposa, a tecnologia à nossa disposição. Isso, de certa forma, alivia a ausência deles.
E, por fim – e ainda recordando o texto que li –, o ruim da partida dos filhos, para viverem suas vidas fora das nossas vidas, é que – plagiando o que uma das amigas de Lenapena disse na crônica – “o ninho fica vazio”. Sim. A casa fica enorme sem a presença deles. E os seus “ninhos particulares” (quartos) são motivos de aperto no coração e de pequenos momentos de melancolia. Resta-nos a visita – permitida pelo “Senhor Mundo” – daqueles que nós amamos. Este final de semana foi festa aqui. Os dois se fizeram presentes. Porém, tudo tem seu outro lado: domingo à noite, na partida, as lágrimas de despedidas tomaram o lugar das lágrimas de boas-vindas da sexta feira passada...
Obs. Poliana e Pedro: hoje morando "no mundo" (em João Pessoa/PB). Aqui, ao lado da mãe e do pai.