PAPA JOÃO XXI - O PAPA PORTUGUÊS

Pedro Julião Rebelo, posteriormente conhecido como Pedro Hispano, foi teólogo, filósofo, médico, professor de medicina e papa, Papa João XXI, sendo o único papa português e o único papa médico. Ele nasceu em Lisboa, provavelmente entre 1205 e 1210, e o seu pai, também era médico.

No prólogo, de um dos seus livros, anuncia seu propósito de “tratar das enfermidades da cabeça, descendo até os pés”. O livro inicia-se pela queda de cabelos e pela depilação, e passa ao estudo dos exantemas da cabeça, das afecções do cérebro, da dor de cabeça, para, finalmente, tratar das doenças dos olhos, dos ouvidos, dos dentes, e assim por diante.

Vejamos algumas receitas:

Para a epilepsia:

1. Chifre de veado pulverizado e bebido com vinho cura os epilépticos.

2. Dar com frequência cérebro de raposa às crianças faz com que nunca sejam epilépticas.

3. Tomar testículos de javali ou porco varrasco com vinho, também, cura os epilépticos.

4. Dar o líquido que destila de um pulmão de carneiro, enquanto assa, cura; e também o pulmão e os testículos.

“Para excitar o coito, triturem-se bagas de loureiro e prepare-se uma confecção das mesmas com suco de satirião; untem-se com isso os rins e as partes genitais; excita poderosamente ao coito ou, fervam-se em azeite eufórbio bagas de loureiro, eruca e raiz de satirião triturados, para ficar um unguento; untem-se as partes genitais e os rins; excitam admiravelmente o poder de geração.

O Papa João XXI apresentou sua concepção sobre a fisiologia da visão, de acordo com a teoria aceita na época, segundo a qual os raios visuais emitidos pelo olho iriam pousar sobre os objetos, estabelecendo assim um contato entre o mundo do espírito e o meio ambiente. Descreve os músculos motores do olho e identifica várias das suas doenças. Atribui ao sistema nervoso central algumas anomalias da visão, conceito original para a época. Cita Hipócrates, Avicena, Constantino, o Africano, e outros médicos da Antiguidade Clássica e da Idade Média. Há, nesta obra, várias considerações clínicas tiradas da própria prática do autor e algumas receitas, principalmente de águas, para conservar a vista. Michelangelo, que na velhice apresentava problemas oculares e morreu quase cego, usava um colírio prescrito nesta obra, denominado aquae mirabilis, composto de vinte vegetais triturados em vinho, e depois diluídos em urina de mulher virgem e destilados em alambique.

Partindo-se do principio da onipotência papal, não podemos colocar em dúvida a eficácia desse colírio, contudo, certamente a sua fabricação seria quase impossível por escassez da matéria prima.