O PRIMEIRO DE MAIO DE MINHA INFÂNCIA
Hoje, despertei mais cheia de preguiça, afinal é sábado. Envio essa mensagem ao meu cérebro e faço com que me obedeça.
Nada de correria e horários dos dias da semana. Isso não, hoje é sábado.
Tomei café sem pressa, e fui caminhar pelo condomínio. Andando, lembrei-me que, hoje não é um sábado qualquer, mas primeiro de maio.
Feriado que comemora o dia do trabalho, dei risada sozinha, pois, desde crianca, sempre perguntava, aos adultos, alias sempre fui perguntadeira, acho que nem existe essa palavra, mas se um ex-ministro, inventou a palavra imexivel, eu também posso criar uma.
Voltando ao primeiro de maio, sempre perguntei, por que, se nessa data se comemora o dia do trabalho, justo nesse dia ninguém trabalha ?
Também estão rindo da minha pergunta, pois é, até hoje não entendo, mas deixa pra lá.
Hoje, é só mais um sábado, mas na minha infância, lá na vila, era um acontecimento essa data.
A companhia que meus ávos, pai e mãe trabalhavam, promovia uma linda festa, em comemoração ao dia do trabalho.
Eu adorava esse dia, acho que nem dormia direito, só pensando em levantar muito cedo, para aproveitar mais o dia.
E lá íamos nós, eu e minha família, para o único e modesto clube que existia no vilarejo.
Os homens da família iam mais cedo ao clube, pois o futebol de campo e o campeonato de bocha, começava bem cedinho.
Mas, as mulheres com suas crianças, também não tardavam. Não queriam perder toda alegria que aquele dia oferecia.
E lá ia eu, parece que escrevendo, chego a sentir a mão delicada e carinhosa de minha mãe segurando a minha.
Enquanto caminhavamos rumo ao clube, a distancia a pé, não era pequena, mas prazeirosa. A estrada de terra batida era margeada por uma natureza de beleza sem igual.
Flores de todas as cores, coloriam nossos passos e amoras vermelhas se ofereciam, para serem colhidas e saboreadas.
Quando finalmente avistávamos o clube, nossos passos se apressavam, logo o som dos gritos da torcida e jogadores, enchiam nossos ouvidos, o campo de futebol era o primeiro a ser visto.
E eu ficava a procurar afoita pelo meu avô, que era o capitão do time.
Era indescritivel, a alegria ao chegar e avistar os vizinhos com suas famílias.
Eu soltava a mão de minha mãe e corria ao encontro das amigas de folia, a Lisa a Dorinha e tantas outras.
E corriamos nós para os balanços rústicos, para competir quem balançava mais alto e alçava com os pés as pontas dos galhos das árvores, aqueles balanços eram mágicos, encantados para nós, meninas simples do interior.
Quando me cansava do balanço, ia assitir meu pai no torneio de bocha, ele sempre ganhava, e tenho até hoje, exposto no escritorio aqui de casa, alguns dos trofeus e medalhas que ele conquistou nesses torneios.
Quando a hora do almoço chegava, tudo ficava mais delicioso, lindas toalhas xadrez nas cores, vermelhas, verdes, azuis, coloriam a grama daquele adorável recanto.
E as famílias se agregavam, e se sentavam em volta dessas mesas improvisadas. Alegres e tagarelas, pois a vila era formada quase na sua totalidade por imigrantes italianos.
E era hora de um banquete ser compartilhado, cada mãe, ávo, tia, vizinha se esmerava em seus dotes culinários, e levava em sua cesta, deliciosas iguarias, eu me lembro, que nem sabia o que pegar, tantas eram as opções.
A escrita é algo mágico. Enquanto escrevo, é como se um quadro, como uma tela de cinema, se formasse à minha frente.
E vejo com perfeição, aqueles piqueniques de primeiro de maio.
Até o som festivo de muitas conversas, todos falando ao mesmo tempo, a alegria sem fim da criancada, a colorida imagem, das toalhas e sobre elas as apetitosas refeições trazidas por cada família.
Consigo ver claramente, como se lá estivesse ainda.
Mas......em poucos minutos.....
A tela se apaga e o quadro se desfaz.
Volto dessa viagem maravilhosa, e vejo agora somente a tela do computador.
Porém, está fresco o extase vivido a pouco, ainda resta imaginação suficiente para escrever das saudades desses primeiro de maio.
Da simplicidade com que nossas vidas eram conduzidas, do compartilhar maravilhoso que existia entre os moradores daquele vilarejo remoto.
Aqueles foram dias especiais, memoráveis, realmente dignos de serem revividos, mesmo que de maneira tosca, por quem nao possui melhor condição, em descrever o quanto foi belo.
Os primeiros de Maio de minha infância.